Foi a necessidade evidente e o profundo desejo dos cristãos de Cairui que levaram em finais de 2012 os Missionários Capuchinhos a abraçar o sonho de construir uma nova capela naquele “suco” (vila). Na realidade, esta comunidade cristã teve em tempos uma capela que foi irremediavelmente danificada por um helicóptero do exército indonésio que aterrou nas imediações e cuja vibração provocou o colapso da estrutura. Entretanto, construíram um espaço temporário que acabou por ser usado por mais de 15 anos e se encontra muito degradado devendo ser reparado no futuro para poder ser usado para outros fins pastorais como Catequese, ensaios ou encontros de formação.
A ajuda da Diocese de Bathurst e de muitos outros amigos na Austrália e Portugal permitiu-nos lançar mãos à obra e construir uma belíssima capela que possibilita a celebração da sagrada liturgia com maior dignidade e conforto. A capela foi dedicada a 24 de maio de 2016 mas algumas coisas ficaram por terminar.
A viagem deste ano teve como objetivo concluir o que faltava, a saber: a sacristia, um quarto, uma casa de banho, parte da iluminação e ventilação, instalação de água canalizada, sistema de drenagem da água das chuvas e lamas, correção da vedação tradicional (para impedir a entrada de cabras e porcos), aplicação de tinta com propriedade hidrófuga e fazer pequenas correções.
Com tudo preparado ao longo de vários meses para a realização desta viagem, saímos do aeroporto Francisco Sá Carneiro, do Porto no dia 17 de julho. Comigo viajaram dois operários de construção - Ricardo Ferreira e Renato Silva -, e ainda a senhora Rosa Ribeiro e a irmã Joana Ribeiro. Esperava-nos lá uma equipa para nos ajudar. A Rosa e a Joana (que pagaram a sua própria viagem) foram incrivelmente generosas e incansáveis garantindo grande parte da logística, limpezas e outros trabalhos.
Chegámos a Laleia no dia 19 de julho ao final da tarde, após quatro escalas de avião e mais uma viagem de quatro horas de carro (para fazer pouco mais de 80 kms) desde o aeroporto de Díli. Depois de um duche rápido (porque a água é um bem escasso) fomos jantar com a Fraternidade Capuchinha de Laleia e recebemos a notícia de que o pai do Renato havia falecido. No dia seguinte o Renato regressou a Portugal e a equipa de técnicos ficou reduzida a 50%. O primeiro grande revés.
Mas como os missionários não são de desistir facilmente pois não estão a trabalhar para si próprios mas para o povo de Deus; e, como o Ricardo encarnou esse mesmo espírito, deitámos mãos à obra. Os dias eram mais ou menos todos iguais: acordar antes do nascer do sol e sair para Cairui, a onze quilómetros de Laleia, regressando depois do pôr-do-sol, duche, jantar e descansar algumas horas.
A "monotonia" do ritmo só era interrompida quando não tínhamos eletricidade ou água ou precisávamos de ir comprar materiais de construção à capital, gastando quase oito horas num dia só a conduzir.
O Renato, graças à generosidade do seu patrão que lhe comprou um novo bilhete de avião, ainda conseguiu regressar a Timor para nos ajudar na última semana, que foi quando, depois de muitas burocracias, conseguimos desalfandegar o contentor da Diocese de Baucau onde tínhamos metido alguns materiais de que precisávamos para concluir a obra.
Connosco esteve também grande parte do tempo o Eng. Fernando Casal, que foi de enorme ajuda; e ainda recebemos a visita do Prof. Pintor Manuel Casal Aguiar, autor de várias obras de arte da capela, e do seu sobrinho, o prof. Pedro Casal.
Aos domingos almoçávamos com os irmãos Capuchinhos que alteraram o ritmo da Fraternidade para permitir que os irmãos Postulantes e Noviços nos fossem ajudar.
Não vimos televisão nenhum dia. Não fez falta. Os irmãos e toda a equipa tínhamo-nos uns aos outros. Um mês formidável! Chegámos a Portugal esgotados e doentes, mas valeu a pena.
Gratidão profunda a quem nos ofereceu as restantes viagens e materiais de construção, a todos os nossos amigos, a quantos rezaram pelo sucesso desta curta missão e ao nosso querido Arq. Magalhães e à sua família que, não tendo podido deslocar-se a Timor connosco, estava em contacto diário connosco para garantir que tudo correria o melhor possível apesar dos inúmeros percalços que foram surgindo.
Muito em breve colocaremos uma descrição detalhada da capela com muitas imagens, para que os nossos leitores possam contemplar aquele espaço – de Deus e dos Homens – que foi construído com o sacrifício e amor de muitas pessoas de vários países. Possa agora o povo de Cairui continuar a usufruir da sua capela e a fazer Caminho para Deus!