Todos os anos, no dia 3 de outubro, é costume celebrar-se a morte do nosso seráfico pai São Francisco, isto é, o seu glorioso trânsito ou passagem deste mundo para o Pai. Entre os vários textos das Fontes Franciscanas que nos podem ajudar nesse propósito partilhamos aqui dois.
Vida Primeira de Frei Tomás de Celano (1Cel 108)
«Ao sentir que ia partir deste mundo, pois se aproximava o momento que lhe fora anunciado por divina revelação dois anos atrás, chamou para junto de si os irmãos que desejava tornar a ver e deu a cada um a sua bênção, conforme o céu lhe inspirava”…
E na pessoa de frei Elias, Ministro Geral da Ordem, abençoou todos os irmãos presentes e futuros dizendo: “Eu te abençoo, meu filho, em tudo e por tudo. E como por tuas mãos multiplicou o Altíssimo os meus irmãos e filhos, assim em ti os abençoo a todos. No céu e na terra te abençoe Deus, Rei de todo o Universo. Abençoo-te quanto posso e mais do que posso e, o que eu não puder, por mim o faça Quem tudo pode…
E a vós todos, meus filhos, vivei no temor de Deus e nele permanecei sempre, pois grandes provações vos ameaçam e a tribulação está próxima. Felizes os que perseverarem nas obras que principiaram…
Quanto a mim, anseio ir para junto do Senhor, nosso Deus; a Ele espero poder chegar, pois sempre O desejei servir devotamente com todo o meu coração.»
Carta de Frei Elias a comunicar a morte de São Francisco
«Frei Elias, sem outro título que o de pecador, saúda seu dilecto Irmão em Cristo, Frei Gregório, Ministro dos Irmãos de França, e na pessoa dele a todos os seus e nossos Irmãos.
Não vos espanteis que eu comece por um desabafo, que o eco do meu suspiro ressoe como o fragor das torrentes: é que aconteceu aquilo que eu temia, sobreveio aquilo que eu receava… Uma desgraça para mim e para vós: aquele que nos consolava, abalou para longe de nós; aquele que nos trazia nos braços, como à ovelha da parábola, partiu para regiões distantes. Foi arrebatado para a mansão da luz aquele que tão querido era de Deus e dos homens, que nos ensinou a todos as leis da verdadeira vida, e deixou aos filhos um testamento de paz.
Talvez devêssemos antes rejubilar-nos com ele; mas como a sua ausência nos deixou envoltos em trevas e sombras de morte, não é também descabido o nosso pranto… Chorai comigo, como eu choro convosco - porque ficámos órfãos, porque perdemos o nosso Pai, a luz dos nossos olhos.
A presença de Francisco, nosso irmão e nosso Pai, era efetivamente um facho de luz, era um farol. E era-o não apenas para os que mais intimamente convivíamos com ele, mas até para tantos outros, cujo teor de vida era bem diferente do nosso. Um clarão que irradiava d’Aquele que é a Verdadeira Luz, e iluminava mesmo os que se encontravam na escuridão da morte, dirigindo-lhes os passos pelos caminhos da paz… Levando-o a pregar o reino de Deus, a transformar corações endurecidos em corações dóceis, a converter a malvadez em bondade, a conquistar para o Senhor um mundo novo.
Portanto, meus irmãos, dai graças e louvores ao Deus do Céu pelo benefício que nos concedeu, e recordai a memória de Francisco, nosso Pai e nosso Irmão, para louvor e glória d’Aquele que o enalteceu entre os homens e o glorificou entre os anjos.»