O que é?
A Dinamização Bíblica é a atividade apostólica mais caraterística dos Capuchinhos em Portugal, ao ponto de quase nos identificarmos com ela não apenas ao nível geral da Ordem, como também da Igreja no nosso país. Nas décadas de 50 a 80, contribuímos para evangelizar e animar a fé do povo, percorrendo o Continente e Ilhas com as Missões Populares e a pregação. Mas, simultaneamente, com o Movimento Bíblico, fomos às paróquias, escolas e comunidades religiosas, aos seminários, quartéis e movimentos iniciar os cristãos na leitura e no amor à Bíblia, desconhecida pela maioria. A este Movimento damos muito do nosso esforço, do que temos e somos.
Nascido do carisma pessoal de frei Inácio de Vegas, capuchinho espanhol, que em 1936 viera para Portugal, o Movimento Bíblico teve início em 1951 com as suas primeiras publicações. Estando ele em Beja, em 25 de fevereiro de 1955 foram fundadas a Editora Difusora Bíblica e a revista Bíblica, instaladas em Lisboa no ano seguinte. E em Maio de 1975 fizemos a “opção preferencial” por este apostolado.
Com sede atual em Fátima, o Movimento Bíblico está estruturado em três áreas complementares: edição e difusão – área editorial (Difusora Bíblica); iniciação e dinamização – área pastoral (Secretariado Nacional); e aprofundamento da fé – área da formação permanente (revista Bíblica e várias edições da Difusora Bíblica).
História do Movimento Bíblico
O Movimento de Dinamização Bíblica «é a actividade apostólica que caracteriza e propriamente identifica a Província Portuguesa dos Franciscanos Capuchinhos, não apenas a nível das Províncias da Ordem, mas também a nível da Igreja em Portugal. Por este Movimento é que maiormente somos conhecidos em Portugal e, por meio dele, temos penetrado nos mais diversos sectores da Igreja neste país. A este Movimento temos dado muito do nosso esforço, das nossas possibilidades, do que temos e somos» (frei António Monteiro, 1984).
A iniciativa partiu do carisma pessoal de frei Inácio de Vegas, da Província de Castela, que em 1936 veio para Portugal. Depois de verificar o enorme desconhecimento das pessoas em relação à Bíblia, em 1951 começou a editar: Concordância dos Evangelhos; Jesus meu Caminho, Verdade e Vida; História de Jesus segundo a concordância dos Evangelhos; Pensamentos do Santo Evangelho para todos os dias do ano. E ao mesmo tempo, a fazer “Colóquios Bíblicos” em que iniciava as pessoas no entendimento e leitura da Bíblia, e o “Domingo Bíblico” em que atingia as paróquias nas homilias da Missa e percorrendo as casas para colocar a Bíblia. Criou também a associação dos Amigos da Palavra de Deus, cujo ideário era ler, estudar e meditar diariamente a Sagrada Escritura, contribuir para a sua edição a preços módicos e difundi-la entre o povo.
Em 25 de Fevereiro de 1955, foram fundadas a Editora Difusora Bíblica e a revista Bíblica, para Difundir e dar a conhecer a Palavra de Deus, por meio de edições da Bíblia muito económicas; Formar católicos instruídos, dando assim a conhecer Cristo; realizar os apelos dos Papas; suplantar a propaganda protestante...
A acção editorial cresceu com a publicação dos Quatro Evangelhos, Novo Testamento, Cartas de São Paulo, Cartas Católicas e Apocalipse, do Antigo Testamento Abreviado e da Bíblia Sagrada completa (fins de 1964), chegando a ser a maior da Europa no seu ramo. Também se estendeu à Liturgia, editando a preços muito populares o Missal Bíblico Dominical e Festiva e depois o Missal Bíblico Diário e o Missal da Semana Santa, levando ao povo a reforma litúrgica do Vaticano II. Em 1961 já estava presente na Feira do Livro de Lisboa com um pavilhão próprio.A Bíblia foi sendo reformulada até uma edição de grande qualidade em 1998; ao todo, nesse ano, em 19 edições diferentes, tinha atingido a tiragem total de um milhão e cem mil exemplares.
A ação pastoral e formativa foi relançada em Maio de 1975: fez-se a “opção preferencial” pelo apostolado bíblico, constituindo-se uma Equipa que o estruturasse e dinamizasse. Nasceram então novos cursos e surgiu outra dinâmica, abrangendo não apenas todo o país, como outros países, nomeadamente de Língua oficial Portuguesa ou com comunidades portuguesas residentes: Alemanha (1980), França e Cabo Verde (1981), Canadá (1982), Angola (1985), Luxemburgo (1985), Estados Unidos (1986), Espanha (1997), Suíça (1997) e Moçambique (2002).
Desde o princípio, o Movimento Bíblico – nascido em Beja, desenvolvido em Lisboa e hoje sediado em Fátima –, foi estruturado em três áreas complementares, hoje coordenadas por um Conselho Provincial do Movimento Bíblico e com um responsável em cada sector: edição e difusão – área editorial (Difusora Bíblica); iniciação e dinamização – área pastoral (Equipa Bíblica); e aprofundamento – área da formação permanente (revista Bíblica, Cadernos Bíblicos e outras edições da Difusora Bíblica, Cursos monográficos).
No seu organograma, tem: para a área editorial, um diretor/administrador e dois vice-administradores, um Conselho Económico, um Conselho Editorial e um Conselho do Movimento Bíblico; para a área pastoral, um secretário nacional que o coordena através do Secretariado Nacional; e para a área da formação permanente, o diretor da revista, o chefe de redação e uma executiva gráfica. O secretário nacional apoia-se nos Secretariados Regionais, que, por sua vez, visitam e animam a nível de zona os grupos bíblicos nascidos dos cursos de dinamização bíblica. Anualmente é organizado um Curso de Agentes de Pastoral Bíblia, um Retiro Bíblico, um Encontro Nacional de Grupos Bíblicos e a Semana Bíblica Nacional. Nesta, replicada na Madeira, nos Açores, em Gondomar, no Porto e em Barcelos, é lançado o tema do “ano bíblico”, estudado depois em “Escolas Bíblicas” (a partir das conferências publicadas na Bíblica científica e do Caderno de apoio à liturgia editado na Semana Bíblica), em grupos bíblicos, Encontros de zona e Região… É também editado o boletim Bíblia e Vida, de apoio e partilhados grupos bíblicos. Naturalmente, e apesar desta proposta, cada grupo é livre de organizar o conteúdo e a periodicidade dos seus encontros de formação e celebração, em dinâmica preferencial de Lectio divina, servindo-se dos Cadernos Bíblicos e de muitos outros subsídios bibliográficos já existentes entre nós.
Frei Inácio de Vegas
Filho de Felipe e Lucilia, nasceu em Vegas del Condado, província e diocese de Leão, na Espanha, a 19 de Setembro de 1904 e foi baptizado no dia 22 seguinte, com o nome de Florencio Eradio González Martínez. Após completar os estudos de Filosofia e dois anos de Teologia no Seminário diocesano local, entrou para os Capuchinhos em 1929. Fez o Noviciado em Bilbau, onde no ano seguinte emitiu a profissão temporária com o nome de Ignacio de Vegas; os votos perpétuos já foram em Leão, em 1933, sendo também ali ordenado sacerdote em 1934.
Os dois primeiros anos viveu-os em Madrid: 1934-35, ministério sacerdotal na igreja de Jesus de Medinaceli; 1935-1936, professor e director dos Irmãos não clérigos, em El Pardo. Na iminência da guerra civil, a Província de Castela tinha alugado a Casa da Valinha, em Cervães, no Concelho de Monção, para residência de postulantes e seminaristas, no caso de estes terem que fugir do Seminário de El Pardo. Mas o assassinato de muitos religiosos deste Seminário fez com que os seminaristas não chegassem a vir, ficando a casa limitada a acolher postulantes e sendo abandonada, por isso, em 31 de Março de 1937, passando os postulantes para Barcelos. O frei Inácio, que viera para Superior daquela casa, acompanhou-os também para Barcelos. Em 1938 foi daqui para o Porto, como Superior de uma pequena casa na Rua de São Dinis, donde, após breve passagem por Serpa, transitou para o Seminário Menor de Fafe em 1939, nele permanecendo como professor até 1941. Acompanhou a mudança do Seminário para o Porto, sendo pouco depois nomeado seu Director, cargo que ocupou até 1946, cumulando com o de Superior da fraternidade até 1947.
Daqui foi transferido para Beja, onde ficou até 1953. Em Fevereiro de 1954 foi mandado para Vila Nova de Poiares como professor do Seminário Seráfico, mas em Junho desse ano nomearam-no Superior e pároco do Salvador, em Beja, cargos que deixou em 13 de Junho de 1955, continuando lá como Vice-Superior. Foi neste convento de Beja que, em 25 de Fevereiro de 1955, fundou a Difusora Bíblica e a revista Bíblica, deslocando-se depois com elas para o novo convento de Lisboa a partir de 3 de Setembro do ano seguinte. E neste apostolado trabalhou até que, em 1966, por insistência do Ministro Provincial de Castela, frei Francisco Iglesias, regressou à sua Província-mãe, para lá apoiar o mesmo Movimento Bíblico, que entretanto já tinha fundado numa reunião de 27 de Outubro de 1964 em Madrid, cujas decisões foram confirmadas e oficializadas pelo mesmo Ministro Provincial em carta de 19 de Fevereiro de 1965.
Entre 4 de Fevereiro de 1967 e Julho de 1969 percorreu a maior parte dos países da América Latina, lançando no México a Difusora Bíblica e a revista Orientación Bíblica (1987). Para lá voltou em Fevereiro de 1976, regressando definitivamente em 1994, vindo entretanto à Europa e tendo passado por Portugal em 1978, 1984 e 1993. No ano 2000 fez a sua última visita a Portugal, passando por todas as nossas fraternidades, informando-se do Movimento, incitando a nos mantermos “Firmes!” e chegando a encontrar-se com um dos bispos auxiliares de Lisboa, Dom Thomaz Nunes.
Quase a cumprir 98 anos, faleceu em Madrid, no convento do Sagrado Coração, em Useras, a 25 de Agosto de 2002, sendo sepultado no dia seguinte no cemitério de La Sacramental de Madrid, na cripta dos Capuchinhos.Na homilia do funeral, disse frei Domingo Montero, Ministro Provincial de Castela e Director da revista Evangelio y Vida: «No Padre Inácio havia um rasgo ainda mais importante que o da sua actividade bíblica: era o da sua espiritualidade bíblica. Ele não era só o difusor da Bíblia; a Bíblia era a sua casa: vivia a Palavra e na Palavra. Antes de meter a Bíblia na sua mochila para sair à rua, tinha-a metido no seu coração numa oração profunda e prolongada.» A revista Evangelio y Vida dedicou-lhe a capa e o Editorial do nº de Setembro-Outubro seguinte; a revista Bíblica, um Especial de 13 páginas no nº 283, de Novembro-Dezembro. Dentre as várias cartas do frei Inácio, sobressai a de 28 de Abril de 1954, uma autêntica carta-programática. A partir dela, Lopes Morgado desenvolveu a sua memória biográfica publicada na revista Bíblica nº 283 (novembro-dezembro 2002), 4-16.
● Para mais dados até 1989, ver Francisco Leite de Faria-Fernando de Negreiros, Os Capuchinhos em Portugal – memória de um Centenário (1939-1989), Lisboa, 1989, pp. 122 e 269.