São Fiel, chamado no baptismo Marco Rey, nasceu em Sigmaringa, na Alemanha, em 1577. Estudou Direito em Friburgo e exerceu advocacia com tal amor à justiça que foi chamado o "advogado dos pobres". Era um cristão recto e piedoso, um advogado justo e cheio de caridade, assumindo sempre gratuitamente a defesa dos necessitados. Pode ser comparado, neste âmbito, a São Ivo da Bretanha, Santo Afonso Maria de Ligório e Santo André Avelino.
Aos 35 anos, para evitar os perigos morais que comportava a sua carreira, deixou as leis e decidiu seguir outra vocação. Disse alguém que ele teria deixado a sua profissão de advogado pelo medo que tinha de vir a cair em alguma daquelas injustiças que parecem inevitáveis nesta profissão.
Fez-se capuchinho em Friburgo onde tinha frequentado os estudos de Direito. Impôs-se a si mesmo viver em obediência, pobreza, humildade, com espírito de penitência, de austeridade e de sacrificada renúncia. Foi ordenado presbítero em 1612, tornando-se um grande pregador da Palavra de Deus.
Eleito Guardião do Convento de Weltkirchen, na Suiça, entregou-se fervorosamente ao apostolado num momento particularmente difícil da vida da Igreja.
No cantão suíço dos Grijões, verificou-se, naquela altura, a dolorosa separação que dividiu católicos e calvinistas, tendo degenerado numa sangrenta guerra política entre os Valijões e o Imperador da Áustria.
O Papa Bento XIV assim escreveu acerca do nosso Santo:
"São Fiel exprimia a plenitude da sua caridade em confortar e ajudar o próximo, abraçava, com coração de pai, todos os aflitos, sustentava imensas multidões de pobres com esmolas que recolhia em toda a parte. Aliviava a solidão dos órfãos e das viúvas, procurando para todos eles a ajuda dos poderosos e dos príncipes. Ajudava, sem descanso, os encarcerados com todos os auxílios espirituais e corporais ao seu alcance, visitava com carinho e atenção os doentes, entretinha-os, reconciliava-os com Deus e preparava-os para enfrentarem a última batalha. Este homem, fiel no nome e na realidade, foi notável na defesa incansável da fé católica".
São Fiel alimentou sempre no seu coração o desejo de derramar o seu sangue pelo Senhor e foi ouvido por Deus. Enviado para a Suíça pela Congregação da Propaganda da Fé com o fim de orientar uma missão entre os hereges, sucedeu que as numerosas conversões ali verificadas lhe atraíram a ira e o ódio das autoridades que acabaram por interrompê-lo com disparos de espingarda numa das suas pregações em Seewis. A seguir, foi agredido fora da igreja em que pregara e depois ferido de morte. O seu corpo acabou por ser barbaramente esquartejado. Era o dia 24 de Abril de 1622. Tinha 45 anos. A sua morte impressionou até os seus mais acirrados inimigos e teve como fruto imediato a pacificação entre eles. Os acontecimentos que se seguiram imediatamente mostraram bem que o sacrifício de São Fiel não tinha sido em vão.
É o protomártir da Sagrada Congregação da Propaganda da Fé.
Foi canonizado por Bento XIV em 1746.
Oração
Senhor, que destes a São Fiel uma admirável fortaleza para testemunhar, com o próprio sangue, o anúncio missionário do Evangelho ao serviço da propagação da fé, concedei aos que hoje celebram o seu triunfo a graça de viverem abrasados no mesmo amor de Cristo, para poderem experimentar também a glória do Senhor ressuscitado. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Hino a São Fiel de Sigmaringa
Homem fiel pelo seu nome e pela sua vida
Elogio do Papa Bento XIV a São Fiel, presbítero e mártir
Desdobrando a plenitude da sua caridade no socorro material ao próximo, acolhia paternalmente a todos os pobres e sustentava-os fazendo coletas em favor deles por todas as partes.
Remediava a indigência dos órfãos e viúvas com as esmolas dos ricos; socorria os presos com toda a espécie de ajudas materiais e espirituais, visitava os enfermos e reconciliava-os com Deus, preparando-os para o último combate.
A sua atividade mais meritória foi a que implantou por ocasião da peste que se declarou no exército austríaco, expondo-se frequentemente às enfermidades e à morte.
Junto com esta caridade, Fiel – homem fiel pelo seu nome e pela sua vida – sobressaiu na defesa da fé católica que pregou incansavelmente. Poucos dias antes de morrer e confirmar essa fé com o próprio sangue, no seu último sermão deixou o que poderíamos chamar o seu testamento: «Oh fé católica, como és estável e firme, como estás bem arreigada, como estás bem fundada sobre rocha firme! O céu e a terra passarão, mas tu nunca poderás passar. O mundo inteiro te contradiz desde um princípio, mas com o teu poder triunfaste de todos.
O poder vitorioso que venceu o mundo é a nossa fé, que submeteu ao império de Cristo os reis mais poderosos e pôs as nações ao seu serviço.
Que outra coisa, senão a fé, e principalmente a fé na ressurreição, fez os apóstolos e os mártires suportar as as dificuldades e sofrimentos que tiveram que enfrentar?
O que é que fez os anacoretas desprezar os prazeres e as honras e viver no celibato e na solidão, senão a fé viva?
O que é que hoje leva os verdadeiros cristãos a desprezar os prazeres, a resistir à sedução e a suportar duros sofrimentos?
A fé viva, ativa na prática do amor, é a que faz deixar os bens presentes pela esperança dos bens futuros e trocar os primeiros pelos segundos.