São Crispim nasceu em Viterbo de uma humilde família, a 13 de Novembro de 1668. Recebeu no baptismo o nome de Pedro Fioretti. Eram seus pais Ubaldo e Márcia que lhe deram uma profunda e cuidadosa educação cristã.
Frequentou os primeiros anos da escola. Apesar da sua frágil constituição física, logo se começou a impor penitências voluntárias. O seu primeiro trabalho foi o de aprendiz de sapateiro.
Desejoso de levar uma vida austera e de se consagrar a Deus, a 22 de Julho de 1693, foi admitido no noviciado dos Capuchinhos em Palanzana, junto à sua terra natal. Feita a profissão religiosa, logo a seguir, foi destinado ao Convento de Tolfa, como ajudante de cozinha.
A sua personalidade de asceta, o seu estilo de cantor do bom Deus e de Nossa Senhora, bem depressa mostraram aquilo que iria ser. Amante da pobreza, dotado de espírito generoso e sensível às manifestações da alegria, cheio de caridade e de atenções fraternas para com os pecadores, os pobres, os encarcerados e as crianças abandonadas, sabia tornar-se útil e agradável nos mais variados ofícios. Era, ao mesmo tempo, encarregado do quintal, enfermeiro, cozinheiro e ainda ia pedir esmola de porta em porta.
Jovial por temperamento e por coerência com o ideal franciscano, sabia fazer amar a virtude e consolar os que sofriam. Com simplicidade edificante, entoava canções, compunha e recitava poesias. Levantava pequeninos altares a Nossa Senhora, sua Mãe e Senhora dulcíssima. A um seu irmão que lhe chamava a atenção por este seu modo de ser e de se comportar como inconveniente para o estado religioso, ele respondia: Eu sou o arauto do grande Rei. Deixai-me cantar como São Francisco. Estes cantos hão-de fazer bem ao espírito de quem me ouve. Sempre, é claro, com a ajuda de Deus e da sua grande Mãe.
A sua confiança sem limites na Divina Providência e a sua união com Deus foram muitas vezes premiadas com milagres e carismas. Era procurado por prelados, nobres e sábios que lhe pediam conselhos, porém, nunca mudou a sua atitude simples e modesta.
Durante 40 anos pediu esmola, de porta em porta, em Orvieto e arredores, procurando os meios necessários de subsistência para a sua comunidade e para os necessitados da "grande família de Orvieto". Neste trabalho praticou obras notáveis no campo da assistência e no campo religioso, sobretudo com os doentes, os encarcerados, as mães solteiras, as famílias pobres, as pessoas desesperadas. Homem de paz, no meio dos seus irmãos, no seio das famílias, entre os cidadãos, entre o povo e a autoridade civil ou religiosa e, tudo isto, sempre com uma santa alegria.
Devotíssimo do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora, foi cumulado de sabedoria celeste que o levava a ser consultado, como se disse, por homens da cultura.
Desgastado pelo trabalho e pelas penitências, passou os últimos anos da sua vida em Roma, no Convento da Imaculada Conceição, na rua Vittorio Veneto.
O Cardeal Trémouille, embaixador do rei de França, encontrando-se gravemente doente, pediu que lhe chamassem o nosso santo que o curou com a sua oração. De outra vez, quando o Papa Clemente XIV tomava parte na eucaristia da igreja dos Capuchinhos, um dos seus camareiros foi acometido de dores gravíssimas. Era frequente suceder-lhe este fenómeno. Médico algum conseguia descobrir a cura para o seu mal. São Crispim levou-o diante do altar de Nossa Senhora e a cura foi instantânea.
Quando tinha 82 anos de idade, a 19 de Maio de 1750, teve lugar a sua santa morte, que atraiu uma multidão de devotos desejosos de o verem e de conservarem para si qualquer pequena relíquia. Antes de morrer, ele mesmo predissera que morreria só nesse dia para não estragar a festa de São Félix. Os milagres foram-se multiplicando e Pio VII beatificou-o, a 7 de Setembro de 1806, e João Paulo II canonizou-o, em São Pedro, a 20 de Junho de 1982, durante o Capítulo Geral da Ordem, que, então, se celebrava em Roma.
Pobreza, oração, caridade: eis um exemplo actual para todos os Capuchinhos do nosso tempo.
Oração
Senhor, que adornastes São Crispim com o dom da alegria no caminho do Vosso seguimento que o conduziu à mais elevada perfeição evangélica, concedei-nos que, por sua intercessão e a seu exemplo, pratiquemos constantemente a verdadeira virtude, à qual está prometida a paz da bem-aventurança celeste. Por nosso Senhor.
Hino a São Crispim de Viterbo
Façamos tudo com alegria
De uma Carta de São Crispim de Viterbo, religioso, a José Smaghi, curial de São Blas
(Analecta OFMCap, 27 [1971], p. 22)
Fiquei contente de saber pela sua carta amabilíssima que Vossa Excelência abraça de coração as máximas mais sagradas que nos deixou o nosso amado Senhor no Evangelho: aí se encontra o caminho certo e seguro para andar segundo a sua santíssima vontade e também a ajuda para meditar na vida e paixão de Cristo, que é uma escola segura para não errar e para praticar as santas virtudes.
Mas é necessário que Vossa Excelência se encha de ânimo e tenha coragem de deitar fora toda a perturbação e medo. Porque estas coisas às vezes nascem de uma indisposição natural, outras vezes são obra do diabo e, nalguma outra ocasião, vêm de causas externas. Mas de onde quer que elas venham, Vossa Excelência procure o modo de se livrar delas, e lembre-se do que o Espírito Santo diz no Eclesiástico: Afasta a tristeza para longe de ti, porque a tristeza faz morrer a muitos, e nela não há nenhuma utilidade. Se pensa na sua própria tristeza, isso não diminui o mal que o entristece, mas aumenta a angústia. Por isso exorto-o a que se apoie no nosso amoroso Senhor, que diz: Sem mim nada podeis fazer.
E se é certo que somos incapazes de fazer algo de bom, estamos, no entanto, obrigados a fazer tudo o que pudermos da nossa parte. Portanto, sabendo Vossa Excelência que o perturba confessar-se ou fazer qualquer outra coisa propria do seu ofício para a glória de Deus, nem por isso deve deixar de ir, mas deve fazê-lo alegremente deixando de lado a perturbação. Mais ainda, tentando livrar-se de todo o pensamento perturbador que o possa assaltar, dizer: "Farei a vontade de Deus e vou por seu amor"; e tente por sua parte, tanto quanto puder, estar alegre no Senhor e distrair-se com coisas boas e santas quando for assaltado pela melancolia. Não deixarei de o confiar de todo o coração ao amoroso Senhor e a nossa Santíssima Mãe para que lhe dêem graça e força possa superar todas essas dificuldades.
Mas pode ter a certeza de que a sua alma irá avançar muito, porque o amoroso Jesus nos envia todas essas coisas para com maior generosidade nos enriquecer com os bens celestes. A nossa vida, meu caro amigo, como diz o apóstolo, é uma batalha contínua, mas é também sinal de que estamos destinados pela misericórdia de Deus a ser grandes príncipes no seu reino.
Escrever-lhe-ei apenas uma que outra vez, porque estou mais necessitado de ser instruído do que de instruir. Por isso, tome Jesus como seu mestre amoroso, e sua Mãe Santíssima, e conhecerá a sua vontade. Peça por mim, pequenino servo, que o deixa no coração amoroso de Jesus e Maria.