O Beato José Tous y Soler nasceu em Igualada (Barcelona), diocese de Vic, em 31 de março de 1811.
Aos dezesseis anos, em 18 de fevereiro de 1827, vestiu o hábito capuchinho no noviciado de Sarriá. Desde os anos da sua formação revelou-se um religioso de grande virtude, de sólida piedade, de pronta obediência e de total fidelidade ao carisma franciscano-capuchinho. Terminada a formação, foi enviado para o convento Santa Madrona em Barcelona, onde se distinguiu pela fidelidade ao ministério sacerdotal e por uma profunda vida interior, alimentada por uma íntima relação com Jesus crucificado, com Jesus Eucaristia e com Maria, a mãe do Bom Pastor.
Estando ele no convento de Santa Madrona, foi surpreendido pela revolta social de 1835. Quando as ordens religiosas foram suprimidas, teve que tomar o caminho do exílio. Em 1843 pôde voltar a Espanha, retomando a vida conventual. Instado pelo desejo de algumas jovens, que pediam para se comprometerem com o serviço da educação cristã de meninas e jovens, em março de 1850 fundou as Irmãs Capuchinhas da Mãe de Deus do Divino Pastor.
Encontrou a irmã morte em 27 de fevereiro de 1871, enquanto celebrava a Eucaristia no colégio da Mãe do Divino Pastor em Barcelona.
Foi beatificado em Barcelona, no dia 25 de abril de 2010.
Oração
Senhor, que destes ao bem-aventurado José Tous y Soler a graça de seguir fielmente o vosso Filho na pobreza e humildade de espírito e de despertar na Igreja a educação cristã das crianças, pelos seus méritos e a sua intercessão concedei-nos que, profundamente renovados, possamos saborear a doçura do vosso amor. Por Nosso Senhor.
Hino ao Beato José Tous y Soler
Beato José Tous y Soler
Frei Mauro Jöhri, Carta Circular (Prot. N. 00359/10) a todos os Frades da Ordem
Obrigado por adversidades políticas e sociais do tempo, a viver grande parte de sua existência, fora do convento e ausente da vida de fraternidade, o frei José tinha integrado a tal ponto os valores da vida capuchinha, que sempre se manteve fiel ao que havia professado, mesmo migrando de um domicílio a outro, em condições extremamente difíceis. Por onde passou soube inserir-se e pôr-se ao serviço das pessoas a ele confiadas. Ele deixava-se tocar pela necessidade do povo, com ações concretas e eficazes.
O Beato José Tous y Soler nasceu no século XIX e viveu a maior parte de sua vida em Espanha. O século XIX caracterizou-se pela instabilidade política, social e económica, pela supressão das Ordens religiosas e de quando em vez, uma perseguição contra a Igreja, com prisão, expulsão dos religiosos dos seus conventos, e, para muitos, a experiência do exílio forçado. Nos anos mais dramáticos houve tumultos e violentos conflitos, com a destruição de igrejas. A Espanha iniciou o século sendo invadida pela França e encerrou-o com guerras de além mar e a perda das últimas colónias do império.
Nesta intricada situação político-social e num ambiente fortemente anticlerical, a Igreja espanhola caracterizou-se, em todo o século XIX, por um florescimento de fortes personalidades, que souberam enfrentar com a audácia da fé e um intenso empenho no âmbito educativo e caritativo, os desafios advindos das mudanças culturais e sociais, particularmente na Catalunha, onde viveu o nosso Beato.
José Tous y Soler, nasceu em Igualada, província de Barcelona e diocese de Vic, a 31 de março de 1811, ele era o nono dos doze filhos de Nicolás Tous Carrera e Francisca Soler Ferrer, uma família abastada, de profundas raízes cristãs. Um dia após o seu nascimento foi baptizado na igreja paroquial de Santa Maria de Igualada, com os nomes de José-Nicolás-Jaime. Em 1817, segundo o costume do tempo, recebeu o crisma e em 1818 fez a primeira comunhão.
O papel da família na vida e na formação do pequeno José foi fundamental. Foi ali que ele recebeu os primeiros germes da fé, do amor e do temor de Deus, que com o tempo haveriam de produzir nele frutos de autêntica santidade.
Em 1820, a família de José transferiu-se para Barcelona, em busca de uma melhor situação de trabalho. Foi ali que o futuro Beato conheceu os capuchinhos e pediu para ser admitido na Ordem. Em 18 de fevereiro de 1827, aos 16 anos de idade, vestiu o hábito capuchinho no noviciado de Sarriá, convento conhecido como "o deserto". Desde os anos de sua formação inicial revelou-se um religioso de grande virtude. Os testemunhos dos irmãos falam da sua exemplaridade no recolhimento, da sua sólida piedade, da sua pronta obediência, da humildade, da pureza e da sua plena fidelidade ao carisma franciscano-capuchinho.
Em 19 de fevereiro de 1828 Frei José emitiu os votos religiosos e em seguida estudou filosofia e teologia nos conventos de Calella de la Costa, de Gerona, e de Valls. Em 1 de junho de 1833 recebeu o diaconato em Tarragona e no dia 24 de maio de 1834 foi ordenado sacerdote por Dom Pedro Martínez de San Martín. Pouco depois foi enviado ao convento S. Madrona em Barcelona, onde se distinguiu pela fidelidade ao ministério sacerdotal e por uma profunda vida interior, alimentada por uma íntima relação com Jesus crucificado, com Jesus Eucaristia e com Maria, a Mãe do Bom Pastor, devoções que marcaram profundamente a sua vida.
No convento de S. Madrona o surpreendeu a revolta social de 1835. Em junho desse mesmo ano, por causa da supressão dos conventos decretada pelo governo, ele foi encarcerado com seus confrades na fortaleza de Monjuic, em Barcelona. Libertado depois de 18 dias, iniciou o duro caminho do exílio, que o levou primeiro à França e em seguida ao norte da Itália. Em 1836 retornou à França, residindo em Grenoble, Marselha e na diocese de Tolosa. Ali completou os estudos de moral, conseguindo o título de pregador, segundo as normas então estabelecidas pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Neste período exercitou o ministério sacerdotal como capelão das monjas Beneditinas da Adoração Perpétua.
Frei José, embora obrigado a residir fora do convento e empenhado em intensa atividade pastoral, permaneceu sempre um autêntico frade capuchinho, vivendo como pobre, cultivando a humildade, o amor ao silêncio, à vida de oração e dedicando-se às necessidades materiais e espirituais de quantos encontrava.
Dois testemunhos excepcionais, nos referem seu apostolado e a sua vida de piedade nos anos de exílio na França. O bispo de Tolosa, Dom Paul D'Artrós, em um atestado de 28 agosto de 1842, assim escrevia: "Atestamos e certificamos que o nosso dileto em Cristo, José Tous, presbítero espanhol, residente em nossa cidade metropolitana há cerca de seis anos, pela pureza de fé, integridade de costumes e a excelência nas virtudes eclesiásticas, mereceu a estima de todos, por este motivo afirmamos que o dito sacerdote, seja acolhido da melhor maneira possível, de modo benigno seja onde for e admitido à celebração da Santa Missa, salvo a permissão do Superior competente (Positio, vol. II, p. 180). Igualmente as religiosas Beneditinas, das quais foi capelão, atestam com firmeza no seu livro das Crônicas a sua vida de devoção, a piedade e o amor à pobreza. Elas escrevem: "Ele leva consigo o nosso afeto".
Em 1843 ele retornou à Espanha com a esperança de reintegrar-se na vida conventual capuchinha, mas as leis 'liberais' do tempo o impediram. Foi então residir com a sua família, permanecendo sempre fiel ao estilo austero e penitente da vida capuchinha. Exerceu o ministério sacerdotal na paróquia de Esparragure (Barcelona), como coadjutor e a partir de 1848, na paróquia de São Francisco de Paula, também em Barcelona. Mostrou-se sempre alegre no viver a sua consagração a Deus, mesmo quando teve de enfrentar tribulações, angústias e até injúrias à sua pessoa de sacerdote e religioso.
Foi na paróquia de São Francisco de Paula que o nosso Beato compreendeu o quanto a infância e a juventude de seu tempo estavam em estado de abandono, tanto espiritual como material, exatamente "como ovelhas sem Pastor" (Mt 9,36). Assumiu então o serviço de Diretor espiritual da "Pia Associação da gloriosa e pequena mártir santa Romana", promovendo a veneração à Mãe do Bom Pastor.
Solicitado por algumas jovens da Associação, que lhe pediam para empenhar-se no serviço de educação cristã das crianças e das jovens, em março de 1850 ele fundou o Instituto das Irmãs Capuchinhas da Mãe de Deus do Divino Pastor. No dia 27 de maio de 1850 foi inaugurada a primeira casa do novo Instituto, em Ripoll (Gerona) e em 1858 foi aberta em Capellades (Barcelona) aquela que se tornaria a Casa Mãe do novo Instituto. Em seguida foram abertas as casas de San Quirico de Besora (Barcelona, 1860), Barcelona (1862) e Ciempozuelos (Madrid, 1865). Frei José redigiu pessoalmente as Constituições do Instituto que fundou e apresentou-as ao bispo de Vic Dom Luciano Casadevall. Nelas estão bem claros os dois pontos de apoio sobre os quais surgiu a nova família religiosa: a devoção a Maria, Mãe do Divino Pastor e o serviço educativo à infância e à juventude.
O Instituto cresceu e se desenvolveu rapidamente acompanhado pela constante solicitude pastoral de frei José, que dedicou-se em particular à formação espiritual das religiosas. Em 1888 o Instituto recebeu o Decretum laudis e em 1897 a aprovação. Em 1905 ele foi agregado à Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.
Frei José encontrou a irmã morte no dia 27 de fevereiro de 1871, enquanto celebrava a Eucaristia no colégio da Mãe do Divino Pastor em Barcelona. Podemos dizer que a sua vida, verdadeiramente foi a celebração contínua do Mistério da Santa Missa. Com a sua morte apagava-se a luz de um "santo religioso", autêntico filho de Francisco de Assis.
Papa Bento XVI, ao declarar Beato frei José Tous y Soler, apresenta-o como um religioso íntegro, inteiramente dedicado à execução de sua missão, para a gloria de Deus e para o bem da Igreja. Um religioso dedicado ao silêncio, à oração e amante da contemplação. Um capuchinho penitente, fiel ao carisma franciscano embora vivendo, contra a sua vontade, fora do convento. Um homem austero e ao mesmo tempo generoso com os outros. Um sacerdote preocupado com a salvação das almas e particularmente sensível às necessidades da juventude feminina, dos enfermos e dos pobres, dócil e obediente aos seus Superiores.
Seu amor incondicional a Cristo e à Igreja enriqueceu o velho tronco da Família Capuchinha de um novo ramo, as Irmãs Capuchinhas do Divino Pastor.
Frei Mauro Jöhri, Carta Circular (Prot. N. 00359/10) a todos os Frades da Ordem
Reine entre vós a paz, a harmonia, a união
De uma carta do beato José Tous, presbítero e fundador, à Congregação das Irmãs Capuchinhas da Mãe do Divino Pastor.
(E. Ros Leconte: Vida y Obra del P. José Tous y Soler, Barcelona 1985, pp. 390-394)
Não podemos senão alegrar-nos no Senhor pelos bons resultados produzidos pela santa visita, pois nos fez ver que na nossa Congregação está em vigor a observância da santa Regra e das disposições que demos outras vezes, e que reina entre as irmãs aquela paz, tranquilidade e harmonia que convém às verdadeiras esposas de Jesus Cristo e o Senhor nos manda no santo Evangelho. Sim, caríssimas irmãs, a caridade, a paz, a harmonia e a santa união entre umas e outras é o que faz do claustro um paraíso de delícias onde o Esposo celeste habita com prazer.
Portanto, encorajamos todas as nossas irmãs a que no amor de Jesus procurem inflamar-se na santa oração, a unirem-se por amor ao Esposo celeste das almas puras, para que, unidas ao amável Jesus, que é Rei pacífico, reine em todas vós a paz, a caridade e a santa união. Quando no coração há o amor de Deus, há verdadeira humildade e quando há verdadeira humildade, há obediência, e por isso não podemos deixar de insistir no quão importante é que todas as irmãs sejam obedientes.
Exortamos todas as irmãs a que sejam zelosas no cumprimento das práticas de devoção e desejem tirar delas o maior aproveitamento espiritual e, por isso, pelo menos ao toque das horas, depois de rezar com devoção a Ave Maria, procurem levantar o coração a Deus dizendo uma jaculatória fervorosa, e oferecer-Lhe o trabalho ou ocupação que têm em mãos.
O Senhor diz-nos na Sagrada Escritura que nos lembremos de santificar os dias festivos; por isso ordenamos que as madres e as irmãs, além de ouvirem missa com toda a devoção e comungarem com o fervor possível, usem algum tempo na leitura espiritual, e as mestras reservem algum tempo a fim se prepararem para os estudos da semana.
Recordem as nossas irmãs aquele passo do santo Evangelho quando vemos que o Senhor repreendeu os seus discípulos porque não permitiam que as crianças se aproximassem dele, usando estas palavras tão sentidas: Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles. Estas santíssimas palavras, tal como sairam da boca do amável Jesus, devem constantemente meditar as nossas irmãs encarregadas de ensinar, considerando a formusura e o candor das almas das ternas meninas, e quão preciosas são aos olhos de Deus por causa da sua inocência.
Por isso rogamos, pelas entranhas de Jesus Cristo, com a maior efusão do nosso coração a todas as superioras locais que amem as meninas pobres, que admitam às salas de aulas todas as que se apresentarem, tanto quanto o permitam o lugar e as aulas, e vo-lo repetimos, sem excluir ou deixar de fora as meninas pobres que não podem pagar a mensalidade.
Não temam, não, nossas irmãs, que por causa disso lhes vai faltar o sustento necessário, pois acontecerá precisamente o contrário; nosso Senhor, por amor de quem farão este favor, enchê-las-á de bênçãos espirituais e temporais e, se forem fiéis a Deus e cumprirem o que Lhe prometeram, Ele mesmo moverá os corações dos devotos e benfeitores para as socorrer com esmolas.
Alguma irmã poderá pensar que o ensino das meninas é uma coisa pesada e que se opõe ao espírito de devoção que tanto pede o nosso Pai São Francisco; mas devem advertir, as que assim pensam, que o ensino é a finalidade deste Instituto e que as irmãs desta Terceira Ordem da Penitência de nosso Pai São Francisco são chamadas por Deus a fazer entre as meninas, o que a sagrada Religião dos padres Capuchinhos fazia antes e faz atualmente em várias partes do mundo, isto é, que são chamadas à vida mista de contemplação e ação, de trabalho e oração, de derramar no terno coração das meninas os santos pensamentos e os devotos afetos que Deus lhes comunicou na santa oração. Este é o espírito da Regra que as irmãs professaram. Além disso, as nossas madres e irmãs devem pensar que, embora sejam religiosas, também são filhas de Adão pecador, e que devem comer o pão com o suor do seu rosto.