Nasceu em Barcelona, da família Astorch, a 1 de Setembro de 1592. No batismo recebeu o nome de Jerónima. Ficou órfã aos três anos e foi confiada, pelos seus tutores, a uma educadora. Aos sete anos ressurgiu milagrosamente de uma doença que a deixara como morta. Com 11 anos foi recebida pela própria fundadora das Clarissas Capuchinhas espanholas.
De rara inteligência, apaixonou-se pelo estudo da Bíblia e dos Santos Padres. Hábil escritora, deixou-nos diversas obras de mística e de espiritualidade franciscana. Após ter sido mestra e Abadessa, terminou a sua vida dedicando-se totalmente à contemplação. Morreu com 73 anos e foi beatificada por João Paulo II a 23 de Maio de 1982.
Oração
Senhor nosso Deus, que enriquecestes com admiráveis dons celestes a virgem Beata Maria Astorch, concedei-nos que, imitando as suas virtudes na terra, participemos da sua alegria no Céu. Por nosso Senhor.
Hino à Beata Maria Ângela Astorch
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Mãe e serva das irmãs
Dos Escritos da beata Maria Ângela Astorch, virgem
(Manuscrito inédito: Arquivo da Postulação Geral OFMCap)
É para mim uma grande mortificação ver-me investida em altas dignidades e ter que mandar, sobretudo por ter que dar contas do aproveitamento espiritual das religiosas.
Senti que o Senhor me dizia no íntimo da alma: «Mostra-te em tudo, cheia de boas obras». Com isto, fiquei instruída sobre a minha obrigação de servir de exemplo às irmãs e de progredir na perfeição. A minha norma é sofrer e calar, e levar o peso que as coisas do governo trazem consigo, como serva da casa do Senhor. Julgo-me indigna de estar entre as servas do Senhor.
Tenho presente que nem todas Deus conduz por um caminho. Devo ajudá-las, com suavidade e doçura, a caminharem segundo o passo que Ele marcou para cada uma, sem pretender que caminhem todas da mesma maneira. O minha maneira habitual de trabalhar está à vista do meu divino Senhor. Sofro e resigno-me, tenho paciência e fico calada, prescindo do meu gosto e querer e entender, uno o meu sentir ao parecer alheio, deixando seguir humildemente, nas coisas indiferentes. Venero nas minhas religiosas a santidade oculta que Deus infundiu nas suas almas. Tolero a condição e natureza de cada uma, sabendo que somos vasos que facilmente se quebram. Não me admiro das suas fraquezas, antes me compadeço delas, pelo que as possa impedir de serem santas, e ainda mais por não se servir a Deus como deve ser servido, ao qual se serve indignamente se não há muita santidade, pureza e humildade. E assim as vou levando.
Ardo em ânsias de que todas as minhas religiosas gozem do que eu sinto e gozo nas comunicações íntimas do Senhor, crescendo nas virtudes; e desejo que isso aconteça sem eu o advertir, mas de repente e ao primeiro golpe, pela graça interior que age em cada uma delas, ficando eu humilhada e aniquilada no meu nada, igual a elas tanto no que Deus quer como no que Ele permite. Muitas vezes me privei do sustento do meu espírito para lho dar a elas, comprazendo-me no alento e na consolação que elas recebiam.
Estou atenta a levar a condição e natureza de cada uma delas e a socorrê-las nas suas necessidades, mesmo que isso me tire da minha comodidade. Quanto às suas faltas e quedas, parecem-me muito leves comparadas com as minhas. Porém, não posso considerar como boa a falta ou o descuido, sob pena de ignorar a verdade. Desculpo-as, mas, como tenho o cuidado delas, procuro que se corrijam e façam tudo para dar bom exemplo, exteriormente, e mais ainda diante de Deus, cumprindo as suas obrigações conforme o exige o nosso estado e o exercício da virtude.
Exercito-me a fim de morrer para mim mesma, dando ao meu divino Senhor a minha vida em sacrifício. E não me faltam ocasiões, porque me cozinho a mim mesma para ser comida gostosa de todas, mas não com tanta facilidade que, em diversas ocasiões, não sinta na minha natureza muitas dificuldades, apetecendo o descanso de não carregar esta cruz e de não ter que morrer tantas vezes nos sacrifícios que o meu entendimento se vê obrigado a fazer. Deixo as coisas correr naquilo que é de pouca importância, não ficando perturbada se as coisas contrariam o meu sentir e querer. E ajustar-me à natureza de cada uma é, sem dúvida, obra da graça.
Levo-as a todas dentro do meu coração. Amo-as tanto, que daria a minha vida, se fosse necessário, por cada uma das minhas filhas; mais ainda, para a maior santidade delas, dei-a publicamente no suplício mais ultrajante do mundo.