Era natural da freguesia de Coimbrão, concelho de Leiria, onde nasceu em 18 de Outubro de 1902. Aos 44 anos de idade pediu para entrar na Ordem Capuchinha como “familiar consagrado” ou “donado perpétuo”. Nessa condição foi admitido a viver e a partilhar a nossa experiência de vida evangélica e franciscana em 25 de Setembro de 1946.
Mandado para a nossa antiga Casa de Beja, aí viveu vários anos ao serviço dessa Fraternidade. Ao ser fundada a nossa Missão de Angola em 1954, o irmão António manifestou aos Superiores Maiores vontade de ir para lá trabalhar como missionário. Ali chegou efectivamente em 21 de Maio de 1955 e seguiu para a recém-fundada Missão da Fazenda Tentativa, no Caxito, antiga sede do Concelho de Dande e actualmente capital da Província do Bengo, onde já se encontravam o Frei Cirino de Getúlio Vargas e o Frei Lourenço Torres Lima que a tinham ido iniciar.
Quatro meses depois foi destinado à Missão de Nambuangongo e por lá ficou até 1961, altura em que se viu forçado a “recuar” para o Caxito devido ao avanço da guerrilha. A partir dessa data fixou-se na Missão da Fazenda Tentativa.
Além dos prestimosos serviços que ministrava aos irmãos missionários ali residentes ou por ali passavam, colaborou sempre, com dedicação e grande zelo, na evangelização e promoção daquelas gentes. Chegava a andar, por semana, dezenas de quilómetros a pé para dar catequese nas sanzalas mais próximas do Caxito, como Sassa, Sassacária, Dande e Porto Quipiri, além da actividade catequética que desenvolvia nas sanzalas da Fazenda Tentativa.
Às vezes, os seus colegas missionários tinham de se ausentar da sede da Missão para povos mais distantes, e por lá ficavam duas ou três semanas em acções de evangelização e sacramentalização. Mas o bom do irmão António não se importava de ficar sozinho na residência missionária da Fazenda Tentativa. Ele próprio se encarregava de acolher e orientar as pessoas, e de encontrar respostas para os seus problemas. E fazia tudo isto com um grande sentido de solidariedade e espírito de serviço. Por isso, era muito apreciado e querido por toda a gente que se deixava contagiar pelo seu trato afável, pela sua palavra amiga e oportuna, e também pelo seu bom humor.
Antes de entrar na Ordem trabalhou como cozinheiro no Hotel do Luso, o que fez dele um autêntico mestre na arte de bem cozinhar, chegando até a publicar, ao que parece, um pequeno livro sobre culinária. Por via disso, uma das suas actividades como missionário era também ensinar as pessoas a confeccionar comida, bolos e outras doçarias.
Depois de 16 anos consecutivos, quase sempre a trabalhar na região desta nossa circunscrição missionária, a 12 de Maio de 1971 veio pela primeira vez descansar à nossa Província, tendo passado então por todas as nossas Fraternidades. Mas em 8 de Janeiro do ano seguinte voltou de novo para Angola. Por ali esteve até Junho de 1975. Nessa altura, devido aos graves acontecimentos ocorridos em Luanda, motivados pela guerra travada entre os chamados Movimentos de Libertação de Angola, viu-se compelido a regressar definitivamente a Portugal, após 21 anos de vida missionária. Foi então destinado à Fraternidade do Porto.
O trauma provocado pela experiência revolucionária que lá viveu e o forçou a abandonar as missões, a difícil acomodação a um clima e estilo de vida diferente do de Angola – tudo isso foi minando a sua já fragilizada saúde.
Cinco meses depois de voltar de Angola, em 17 de Novembro de 1975 foi acometido de uma trombose que o deixou parcialmente paralisado. Foi imediatamente conduzido ao Hospital de Santo António e deste transferido para o Hospital de São João em cuja unidade hospitalar lhe dispensaram todos os cuidados que a gravidade do seu caso requeria. Veio contudo a falecer na manhã de 2 de Dezembro de 1975.
Contava 73 anos de idade, 31 de donado perpétuo e 21 de missionário. Ficou sepultado no cemitério de Paranhos em talhão privativo dos Capuchinhos.
O irmão António do Carmo deixou-nos sobretudo o exemplo de quem se sente feliz em servir e fazer felizes os outros, e também um belo testemunho de amor e empenhamento pela causa da Missão.