Vigília Pascal
VIGÍLIA PASCAL
Êxodo 1-13; Marcos 14-16
I
depois da morte de José e dos meninos hebreus,
da palha e do barro para os tijolos,
da resistência dos oprimidos e do chicote dos capatazes,
da fuga de Moisés e da interpelação na sarça ardente,
da consciência dos chefes e da conscientização do povo,
do diálogo de Aarão e Moisés e da contumácia do faraó,
do trabalho forçado e do engodo da carne e das cebolas,
do delírio das insónias e do lenitivo das ervas amargas,
da água do rio e do sangue dos escravos,
da travessia extraordinária do Mar Vermelho...
o Fogo e a Luz,
a Palavra e a Água,
o Pão e o Vinho,
o Cordeiro e o Povo,
a História e a Festa,
a Promessa e a Vida.
II
do Fogo – a LUZ que separa e alumia.
do Livro – a PALAVRA que é espírito e vida.
da Fonte – a ÁGUA que purifica e recria.
da Mesa – o PÃO que rememora, alimenta e configura.
do Cálice – o VINHO que é banquete e sacrifício.
da Cruz – o CORDEIRO que dá vida e passagem ao futuro.
do Povo – a PROMESSA cumprida, a Vida nova.
III
A LUZ e o FOGO assinalam,
orientam, guiam e purificam.
A PALAVRA anuncia, realiza,
proclama e atualiza.
A ÁGUA divide e une, inunda e rega,
afoga e regenera, lava e recria.
O PÃO alimenta e presencializa,
é memória e corpo, entrega e partilha.
O VINHO sangra e dessedenta, espuma e alegra,
é colheita e semente, bebida e sacramento.
O CORDEIRO bale e emudece, é inocência e martírio,
sinal de pertença e proteção, refeição e resgate.
O POVO em susto entra no leito do mar da morte
e renasce pela água e pelo Espírito.
IV
O LUME NOVO do Círio pascal
indica o rumo «das trevas para a Luz» (1 Pe 2,9),
simbolizando Cristo crucificado e ressuscitado,
Princípio e Fim de todas as coisas.
A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO
evoca as intervenções de Deus, na origem
dos céus e da terra, a partir do abismo informe e vazio;
da fé de Abraão, a partir da confiança na promessa;
da liberdade dos hebreus, a partir da opressão no Egipto;
da ressurreição de Jesus, a partir da sua paixão e morte;
da vida e da graça, a partir da morte e do pecado;
de um novo povo e uma nova aliança,
a partir de um coração de pedra e uma lei sem espírito...
e atualiza-se hoje
na libertação ou independência dos subjugados,
na reivindicação dos sem-terra nem vida em qualidade,
na consciência organizada dos explorados,
na diáspora dos mal-amados pelos seus governantes,
no reencontro dos perdidos de Deus e de si mesmos,
na esperança dos descrentes no poder e no saber,
na saída transcendente para as situações-limite.
A NOVA E ETERNA ALIANÇA é celebrada
no Corpo e no Sangue de Cristo ressuscitado –
novo Moisés que, ao erguer-se glorioso do túmulo,
transformou os escravos do pecado em filhos de Deus;
novo Cordeiro que deu a vida pelo rebanho,
e novo Pastor que o conduz às fontes batismais da Vida.
V
PÁSCOA: Festa de uma Nova Criação,
primeiro Dia de todos os recomeços,
Lua cheia de todas as Primaveras.
PÁSCOA: Festa de uma Vida renascida,
Berço do nascimento de um Homem novo,
Salvação de um Povo a quem não basta a liberdade.
PÁSCOA: Festa de uma Nova Aliança de Amor,
Encontro definitivo de Deus com a humanidade,
Fim de longos exílios, Início de novos idílios.
VI
Quando no princípio Deus criou os céus e a terra.
Quando os filhos de Israel se puseram em marcha.
Quando O Crucificado e morto – ressuscitou!
VII
Apesar do caos informe e do vazio.
Para além de todas as violências.
Muito embora todas as fraquezas.
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