2 de outubro
VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO
“AUMENTA A NOSSA FÉ”
A primeira parte do fragmento do evangelho do Vigésimo Sétimo Domingo (Ano C) começa com um pedido: «Aumenta a nossa fé».
O pedido permite um breve ensinamento sobre a fé. O Mestre utiliza uma imagem conhecida, para mostrar o paradoxo entre a debilidade e a pequenez do grão de mostarda e a estabilidade e a fortaleza da amoreira. O contraste é provocador: o débil e pequeno pode ‘arrancar’ algo tão forte. Afinal, não é preciso ‘aumentar’ a fé (para obter coisas extraordinárias). O essencial está numa fé viva e ativa.
A fé não se mede pelo tamanho, pela quantidade, mas pela qualidade: fé que seja mais viva e mais vital, abra à presença de Deus, permita a sua ação na nossa vida, faça progredir no testemunho.
A ‘qualidade’ da fé está interligada à oração, à experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo.
Uma jaculatória repete a petição: «Senhor, eu creio em vós, mas aumentai a minha fé». É importante perceber o sentido, na linha do evangelho. Não se roga o incremento quantitativo da fé, mas a requalificação dessa virtude que facilmente podemos confundir com algo mágico, como se as coisas resultassem mais fáceis e menos complicadas.
A eucaristia é sacramento da fé. A morte e ressurreição de Jesus Cristo, núcleo da fé cristã, atualiza-se em cada eucaristia. Dela recebemos o alimento que sustenta os caminhos da vida. Nela, em comunhão com outros crentes, partilhamos a mesma missão: testemunhar a alegria do Evangelho. O testemunho é o termómetro para medir a fé.
Rezar o Salmo 94 (95) conforme a proposta litúrgica deste domingo
9 de outubro
VIGÉSIMO OITAVO DOMINGO
“LEVANTA-TE E SEGUE O TEU CAMINHO”
Dez são os leprosos curados, segundo o episódio descrito no evangelho. Apenas um passa da cura à conversão. Volta para agradecer, prostrando-se aos pés do Salvador. Dele recebe a missão: «Levanta-te e segue o teu caminho».
Jesus Cristo concretiza o desejo divino de ‘curar’ o ser humano de todas as enfermidades (físicas e espirituais), limpar as nossas ‘lepras’, devolver a dignidade, eliminar os obstáculos que nos fazem sentir marginalizados, recuperar a alegria da vida.
A gratuidade da cura é reconhecida na atitude de ação de graças. Há um deles que é capaz de perceber que o mais importante não é a cura física, mas a transformação profunda da vida. Todos pedem: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Todos confiam na palavra de Jesus Cristo. Apenas um «voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus, para Lhe agradecer».
O Mestre não reclama agradecimento. O que volta para agradecer fá-lo por vontade própria, percebe a cura como uma dádiva.
O samaritano demonstra a sua maturidade. O grau de agradecimento é proporcional ao reconhecimento da graça recebida. Agradecemos com mais empenho quanto maior for a perceção que temos da dádiva. Podemos assim dizer que quem não sente necessidade de agradecer é porque não foi capaz de reconhecer a grandeza da oferta.
O dom reconhecido dá lugar à gratidão, à ação de graças. É uma possibilidade a explorar sobre o verdadeiro sentido da eucaristia. Será vivida como ação de graças, se formos capazes de reconhecer o dom, o presente que Deus traz à nossa vida.
Rezar o Salmo 97 (98) conforme a proposta litúrgica deste domingo
16 de outubro
VIGÉSIMO NONO DOMINGO
“ENCONTRARÁ FÉ SOBRE A TERRA?”
A conclusão do fragmento do evangelho do Vigésimo Nono Domingo (Ano C) contém uma pergunta que não pode deixar indiferente o cristão que leva a sério a sua vida: «Quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?».
A pergunta pode remeter para uma determinada indecisão e angústia, mas merece uma atenção mais cuidada pela possibilidade em perceber a vinda gloriosa de Jesus Cristo como uma pergunta que interpela a nossa fé.
«A vinda do Senhor não é tema de especulações teológicas abstratas, mas realidade de fé para se viver e se experimentar como espera e anseio na oração. […] Oração e fé têm uma ligação inquebrável: crer significa rezar. E se é certo que só podemos rezar graças a uma fé viva, não é menos verdade que a nossa fé permanece viva graças à oração» (Luciano Manicardi).
O evangelho realça os vínculos estreitos entre a oração e a fé. Em primeiro lugar, adverte que o abandono da oração é a antecâmara do abandono da fé. Ao contrário, a atitude orante é expressão da fé e da confiança em Deus, em qualquer momento da existência, «dia e noite», nas alegrias e tristezas próprias da vida quotidiana.
O crente reconhece que o mais importante é deixar-se alimentar pela presença de Deus, no meio dos afazeres quotidianos.
A oração tem entre os seus múltiplos frutos uma fé que cresce e que, ao alimentar a esperança no reino presente e futuro, contém também a implicação pela justiça e pela caridade.
Rezar o Salmo 120 (121) conforme a proposta litúrgica deste domingo
23 de outubro
TRIGÉSIMO DOMINGO
“QUEM SE HUMILHA SERÁ EXALTADO”
O evangelista Lucas, no fragmento do Trigésimo Domingo (Ano C), conta que, perante a atitude de «alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros», Jesus Cristo apresenta a parábola do fariseu e o publicano, para concluir: «Quem se humilha será exaltado».
O Mestre ensina que considerar-se ‘justo’ é um pecado de orgulho. Pior é, ao orgulho, acrescentar o desprezo pelos outros. Não é possível rezar de forma autêntica e desprezar as outras pessoas, humilhar os irmãos.
O fariseu é tão presunçoso que permanece de pé, não reza por si ou pelos outros, mas dá informações a Deus sobre os pecados dos outros e exibe o que considera serem os seus méritos. Méritos esses relacionados com o cumprimento de práticas, jejuar e pagar o dízimo, em nada vinculadas ao íntimo da pessoa, à conversão do coração. Há formas de oração que nos podem afastar de Deus!
O publicano nem sequer ousa levantar os olhos, bate no peito, invoca a misericórdia divina, reconhece-se pecador. Ao contrário do fariseu, não apresenta a lista de supostos méritos, mas abre-se à possibilidade de Deus agir na sua vida, abre o coração à conversão. Onde há humildade, há abertura à ação de Deus, há abertura ao perdão e à misericórdia divina.
A oração requer humildade. A atitude orante autêntica apoia-se na humildade. A justificação (salvação) não começa pelos méritos pessoais, mas pelo reconhecimento da condição pecadora, disposto a acolher, com fé, a misericórdia divina. A humildade perante Deus tem como ‘prémio’ a elevação à condição de filhas e filhos amados.
Rezar o Salmo 33 (34) conforme a proposta litúrgica deste domingo
30 de outubro
TRIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO
“SALVAR O QUE ESTAVA PERDIDO”
Deus é misericordioso, dá sempre uma nova oportunidade de arrependimento e conversão. Ao entrar na ‘casa’ de um pecador para lhe oferecer a salvação, Jesus Cristo cumpre o objetivo da sua vinda ao mundo: «O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».
O Trigésimo Primeiro Domingo (Ano C) descreve um episódio exclusivo de Lucas: o encontro entre Jesus Cristo e Zaqueu revela a misericórdia divina e a conversão humana. Zaqueu reconhece a sua situação e assume o compromisso de restituir em excesso qualquer prejuízo, além de dar metade dos bens aos pobres.
O amor de Deus é para todos, sem exceção. Dele brota a universalidade da salvação. Nenhum ser humano está excluído do caminho da vida. Os mais afastados, os que habitam as ‘periferias’, os que que parecem destinados ao fracasso, os pecadores, todos podem deixar-se aproximar e encontrar, no amor divino, a plenitude da alegria.
«O texto apresenta-nos assim o encontro do desejo de Deus e do desejo do homem, que é, em ambos, desejo de salvação. […] Muitas vezes as nossas procuras e os nossos caminhos espirituais resultam na descoberta de que o Senhor nos procurava e já vinha ao nosso encontro. Estas nossas procuras são o nosso predispor tudo para o acontecimento da graça» (Lucinano Manicardi).
A misericórdia de Deus e o desejo de salvação manifestam-se também no momento penitencial da eucaristia, o qual vincula o pedido de perdão à consumação escatológica: «Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna».
Rezar o Salmo 144 (145) conforme a proposta litúrgica deste domingo
6 de novembro
TRIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO
“PARA ELE TODOS ESTÃO VIVOS”
O diálogo de Jesus Cristo com os saduceus permite centrar a atenção na ressurreição e na vida eterna, tema sugestivo neste mês de novembro. O Mestre confirma que, no desígnio de Deus, a meta é a ressurreição: «Para Ele todos estão vivos».
Acreditamos na vida em Deus. «Espero a ressurreição dos mortos, e a vida do mundo que há de vir», professamos no Credo, em cada eucaristia dominical. É um dos pontos fundamentais da nossa fé. «A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: é por crer nela que somos cristãos» (Tertuliano).
Os saduceus apresentam uma possibilidade surreal para colocar em ridículo a hipótese da ressurreição. Eles pouco mais acreditavam do que no Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Ora, Jesus Cristo recorre precisamente a um desses livros, o do Êxodo, para lhes recordar a passagem da sarça ardente: Deus fala com Moisés e é apresentado como «o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob» (cf. Êxodo 3, 6). Não é um Deus de personagens mortos, porque «para Ele todos estão vivos», habitam o seio de Deus.
É preciso superar as categorias de tempo e de espaço. Estar vivo em Deus não se pode perceber como uma duração de tempo num determinado lugar. Há algo mais profundo de novidade na vida dos ressuscitados em relação com a existência terrena. Trata-se de uma participação na vida de Deus, não uma mera reanimação eterna do corpo.
A eternidade, escreveu Romano Guardini, é o modo da existência de Deus. Para nós, é participação na vida de Deus. A eternidade não é subtração da vida, mas adição, é a superação dos limites no amor.
Rezar o Salmo 16 (17) conforme a proposta litúrgica deste domingo
13 de novembro
TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO
“OCASIÃO DE DAR TESTEMUNHO”
O texto do evangelho do Trigésimo Terceiro Domingo (Ano C) expressa os sentimentos dos primeiros cristãos em relação a um futuro considerado difícil e incerto, pois estão a experimentar a perseguição e o martírio, a perda da vida por causa da fé em Jesus Cristo. Nessas condições podem relembrar as palavras do Mestre: «Tereis ocasião de dar testemunho».
Jesus Cristo mostra-se solidário com os discípulos. Ainda que sejam levados a tribunal ou para a prisão, garante que lhes dará a sabedoria e as palavras necessárias para ultrapassar cada uma dessas situações. São ocasiões de perseverança e testemunho.
A linguagem típica dos anúncios escatológicos não é para ser tomada como visão terrificante e pessimista. Ao contrário, nós, cristãos, somos chamados a semear esperança, a não ter medo, a ser perseverantes, a ter confiança na presença de Deus, também nas dificuldades e sofrimentos, no meio dos desastres e contrariedades da existência terrena.
Deus não abandona aqueles que o invocam e o procuram com sinceridade. Essa é a alegria que enche a vida dos que buscam no Senhor o seu refúgio.
Um aspeto essencial do testemunho é a capacidade de «arregaçar as mangas e pôr em prática a fé através dum envolvimento direto, que não pode ser delegado a ninguém», escreve o Papa, na Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres.
O testemunho da fé, na relação com os pobres, não é assistencialista, «mas a atenção sincera e generosa que me permite aproximar dum pobre como de um irmão que me estende a mão».
Rezar o Salmo 97 (98) conforme a proposta litúrgica deste domingo
20 de novembro
TRIGÉSIMO QUARTO DOMINGO
“SALVOU OS OUTROS”
Há um momento único no relato segundo Lucas próprio da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (Ano C): Jesus está presente, mas em silêncio; são outros que falam dele e, à exceção daquele que designamos de ‘bom ladrão’, todos provocam a tentação de quebrar o vínculo de confiança no Pai. Estes representam os que, ao longo da história, não entende(ra)m a missão de Jesus Cristo: «Salvou os outros»!
Jesus Cristo não quis ser um rei como os outros. Não exerce um governo à maneira dos reis deste mundo, que se servem dos seus súbditos para alcançar os seus intentos. Jesus Cristo é um rei que se coloca ao serviço do seu povo, dá a vida pelos seus, por amor.
O Senhor, Rei eterno, não exerce o seu poder de maneira triunfalista, como os poderosos deste mundo. Pelo dom total de si mesmo, reconcilia o Universo, restaura a comunhão ferida pelo pecado, salva a humanidade, abençoa a todos com a plenitude da paz.
A realeza manifesta-se na surpresa e no escândalo da cruz. É esse o grande sinal que nos aponta a plenitude do serviço, da entrega aos outros, por amor. É na cruz que se revela o Messias, o Cristo, o Ungido que vem trazer a salvação a todo o Universo.
Salvar a própria vida é a tentação. Contudo, a cruz mostra-nos o caminho do discípulo missionário chamado a dar a vida no serviço aos outros. É a maior prova de amizade e de amor.
Este domingo convida-nos a dirigir o nosso olhar para Jesus Cristo suspenso na cruz. É um exercício de contemplação que se torna também numa oportunidade para fazer uma avaliação autêntica do nosso discipulado ao longo do ano.
Rezar o Salmo 121 (122) conforme a proposta litúrgica deste domingo