04 de junho
Santíssima Trindade
O NOME DE DEUS É COMUNHÃO
Em que Deus acreditamos? Que imagem de Deus nos habita e nos conduz? Estas questões refletem-se na religião que praticamos e nas relações que vivemos. O Deus que Jesus nos revelou não é um Todo-Poderoso Solitário; é Família-Amor-Comunhão: plenitude de Relação! Dele dizemos que é "Santíssima Trindade": Três vivendo tão plena Comunhão que são Um só. Eterna circularidade de Vida e de Amor! Aproximemo-nos "descalços", para entrar nessa roda de Amor e Comunhão.
Como fez Moisés, num momento crítico da caminhada de Israel pelo deserto. Aí descobriu o rosto autêntico de Deus: não um ser solitário e vingativo, mas "um Deus clemente e compassivo, cheio de misericórdia e fidelidade".
Como viveu e testemunhou Jesus: "Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho Unigénito!" O nosso é um Deus "em saída". Ama, deixa o seu mundo, abre-se ao nosso: um mundo ferido, marcado pela divisão, o pecado. A ele dá o seu Filho. "Não para o condenar, mas para o salvar". Para nos salvar de sermos Egoístas, Solitários. Deus sai de si, transborda de Amor, alarga a roda de Comunhão e nos faz entrar nela. Para aprendermos, com Jesus, o modo de Ser plenamente: vivendo relações de Amor, Comunhão, Perdão, Compaixão.
08 de junho
Corpo e Sangue de Cristo
PÃO PARA A VIDA!
Após a multiplicação dos pães, Jesus faz um longo discurso, que dá sentido eucarístico à sua vida e à vida de quem o segue. Ele é pão, carne, sangue, doados — para serem por nós assimilados.
O primeiro ‘pão' que oferece é a sua Palavra, o Evangelho da ternura e da misericórdia. Pois, «o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus». Não nos nutrimos só de comida, mas também de afecto, sentido, compaixão… que jorram do coração e da boca de Jesus.
'Pão' é toda a vida de Jesus: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna». Quem me acolhe e assimila o meu jeito de viver em doação, abre-se à experiência de outra vida já agora: a do Eterno, indestrutível, porque fundada no Amor. Jesus se doa para ser incremento de vida: «O pão que eu hei de dar é a minha carne, pela vida do mundo».
A relação autêntica com Jesus deve ser pessoal, de coração, de recíproca ‘habitação’; não apenas ritual, celebrativa. Se «verdadeiramente comemos a sua carne», descobrimos que a vocação cristã é essencialmente eucarística: ser no mundo ‘memória viva’ do Redentor, fazendo da nossa vida dom «pela vida do mundo»; passando continuamente da auto-suficiência à auto-doação.
18 de junho
QUE DISCÍPULOS? QUE MISSIONÁRIOS?
O Mestre está em plena itinerância missionária, percorrendo aldeias e cidades, proclamando a Boa Nova do Reino, sarando os feridos. A um dado momento, contempla: vê a multidão com os olhos da alma. Vê e sente compaixão! «Sentiu compaixão», no original grego é: moveram-se as suas entranhas — a mesma expressão para útero materno. Como Deus, Jesus tem entranhas de mãe. Por isso, sente! Sente o estado de opressão e cansaço da gente, a quem os líderes religiosos impunham «fardos pesados» (Mt 23). São «ovelhas sem pastor», pois poucos são os «trabalhadores da Messe»: os que se deixam ferir pela dor dos feridos e deles se aproximam com compaixão.
Por isso, entre os discípulos que o seguem, o Mestre chama doze (alusão às doze tribos de Israel), quais pastores do Novo Israel. Os missionários do Mundo Novo devem deixar-se gerar constantemente na relação com o Mestre e aprender a olhar os homens, seus irmãos, com compaixão. Assim podem prosseguir a sua missão: anunciar o Reino (=Deus está do lado dos últimos), sarar os feridos, expulsar os demónios (=tudo o que impede de viver plenamente).
Há por aí cristãos dispostos a ser trabalhadores da Messe, discípulos-missionários do Pastor Compassivo?
25 de junho
SEM MEDO!
O Mestre era consciente dos perigos que corria ao proclamar a chegada do Reino de Deus para os excluídos, invertendo os valores religiosos e sociais da época. Sabia dos riscos que corriam os seus discípulos, continuadores do projeto do Reino. Sabia que, por detrás dos riscos, se esconde uma cilada maior: o medo. Daí, a exortação: «Não tenhais medo dos homens!»
O medo alertar-nos para os perigos. Mas pode também paralisar, levar à resignação, à cobardia. Mas «não temais!» não é convite à ingenuidade. A fé não é apólice de seguro contra os problemas da vida. O mal existe, vemo-lo em ação no mundo. Os sistemas dominantes marginalizam e até eliminam quem se opõe às suas lógicas. Por isso, «não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma». Pelos valores que seguimos, podemos sofrer ameaças, ser marginalizados. Mas são apenas ameaças exteriores. Não deixemos é que, por medo ou cobardia, nos «matem a alma»: os ideais, a dignidade, a honra!
O discípulo de Cristo não se contenta com um "cristianismo de sacristia". A sua fé é uma declaração de compromisso evangélico «diante dos homens», trabalhando para a mudança de estruturas sociais e eclesiais injustas, corruptas, pecaminosas.
02 de julho
DAR É RECEBER. PERDER É GANHAR.
Hoje, a Palavra propõe 4 atitudes fundamentais do discípulo-missionário, enviado a testemunhar o Reino: amar, perder, dar, morrer.
É preciso amar o Mestre «mais» que o pai, a mãe, os filhos. Um soco no estômago! Sim, precisamos «amá-lo mais» que aos nossos caros. Só assim o nosso ‘Eu’ encontra o ‘Tu’ de Deus e seu Amor: Puro, Gratuito. Só ele pode curar a ferida de desamor que todos carregamos. «Amar mais» a Deus, deixar-nos «amar mais» por Deus! E saberemos amar mais autenticamente…
É preciso perder: «Quem conserva a sua vida, perde-a; quem perde a sua vida por causa de mim, salva-a». Contra o ‘bom senso’ humano! A mentalidade dominante põe o valor da pessoa não dentro, no ser, mas fora, no ter: bens, títulos, cargos. O que produz gente ansiosa, buscando sempre 'ter', e cria excluídos, os que ‘não têm’. É preciso aceitar «perder» esse modo de viver para «salvar» a vida: reencontrá-la na beleza de dom, recebido e dado.
É preciso morrer, «tomar a cruz». Não na aceitação resignada dos sofrimentos, mas abraçando o risco incómodo de viver a partir da lógica do Evangelho. O Mestre busca discípulos audazes, capazes de arriscar a vida. Só esses podem ser profetas, ter um impacto no mundo!
09 de julho
VINDE A MIM!
O Mestre vai anunciando a Vida Nova do Reino, com gestos e dizeres. Mas dá-se conta de resistências, sobretudo dos líderes religiosos. Entra em crise? Não. Bendiz o Pai, «que esconde» os segredos do Reino aos «sábios e entendidos» e «revela aos pequeninos», aos excluídos social e religiosamente: prostitutas, publicanos, leprosos, cegos, coxos… Nas palavras e nos gestos de Jesus, eles reencontram vida e dignidade. Renascem como pessoas! E começam a «conhecer» o Pai, que o Filho revela — um Deus muito diferente da religião oficial!
Os excluídos andavam «cansados e oprimidos» pelas regras sufocantes dessa religião. A eles, a todos nós, o Mestre convida: «vinde a mim», «tomai o meu jugo». Jugo era a canga que se punha no pescoço da parelha de bois para a lavoura. O jugo que Jesus propõe é dele: nós o levamos com ele! O jugo da religião oficial oprime. O jugo de Jesus é «suave»: brota do Amor, liberta de amarras, faz desabrochar o melhor de nós. S. Paulo (2ª leitura) chama a isso «viver segundo o Espírito». O contrário é «viver segundo a carne»: a partir do ego, presos às antigas amarras; ou na auto-suficiência, como os «sábios e entendidos».
Que religião sigo e testemunho?… «Vinde a mim»!
16 de julho
SEMEADOR DE VIDA PLENA
Jesus sabe das resistências de muitos dos seus ouvintes, mas não pode calar a Boa Notícia do Reino. Na sua boca, as palavras fazem-se parábolas: histórias da vida, simples, carregando o fermento do Reino, para transformar vidas simples em histórias grandes de esperança.
A parábola de hoje ilustra a missão do Mestre, que prossegue apesar das distrações ou resistências de quem recebe a Palavra. Fala de um semeador: diferente, exagerado, excessivo, que lança sementes com gestos amplos: na terra, pelo caminho, nas rochas, entre espinhos. Assim é o Semeador de sonhos divinos em nosso viver humano. Generoso, abundante! Não sabe agir doutro modo, pois o Amor, a Compaixão, a Bondade, a Graça que nos dá em semente são o seu modo de ser.
Sim, ele seguirá semeando. Na minha, na tua vida. Mas, para que a semente dê fruto, depende também de nós, de sermos terra boa. Não perfeita, mas acolhedora. Que nos deixemos interpelar pela Palavra, às vezes incómoda, mas sempre fecunda. E a força da Graça fará o resto. O dom que ele põe no nosso chão é destinado a frutificar em Amor, Compaixão, Bondade, Generosidade. A dar gosto de plenitude à vida: nossa, dos outros, do planeta…
Com o Mestre, semeemos!
23 de julho
E SE NASCE O JOIO?
O Semeador sonhador de vida abundante é realista. Sabe que há outro semeador capaz de semear joio no nosso campo. Não é o que constato? Às vezes, desponta em mim o ciúme ou a raiva. Ou o impulso de dominar. Nem sempre sou gentil e paciente. Em meu coração não há apenas boa semente a germinar.
E, à minha volta? Há pessoas de bem, mas também crápulas e corruptos. Gente acolhedora e tolerante, ao lado de avaros e violentos. As cores da minha paróquia não são apenas luz e amor; há tons de rivalidade e baixeza. Sim, o Inimigo também semeia. Nos melhores terrenos.
Esse é o mistério da sementeira do Reino! Ao lado do trigo, sem sabermos como, desponta a cizânia. Assim é o meu coração. Assim é o mundo, mosaico de mim mesmo. «Queres que arranquemos o joio do teu campo?» Como gostaria de arrancar imediatamente a erva má, erradicar fragilidades e misérias pessoais! Como gostaria que Deus punisse sem demora os maus!
«Não arranqueis o joio à pressa. Não suceda que apanheis também o trigo enquanto cresce». Tem paciência contigo. E com os demais. Com as frágeis sementes de bem que em cada um crescem. Apoia-as. E abre-te à Força do Dono do campo, pois «o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza».
30 de julho
TESOURO
O cristianismo pode ser vivido como rotina ou como paixão. Uma fé rotineira é monótona, descolorida, comandada pelo dever, com pouco espaço para a descoberta, a alegria, a festa. Mas a experiência do Reino de Deus é de outra dimensão: envolve o coração e a vida. É paixão e compromisso.
Disso fala Jesus nas parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa. O Reino é a experiência de Vida Nova a que Deus nos chama, seguindo os passos de seu Filho. Essa fantástica realidade é, às vezes, um dom inesperado, como o tesouro que o camponês encontra ao cultivar o campo. Assim foi com os discípulos, que descobriram o tesouro-Jesus quando ele cruzou o seu caminho. Outras vezes, é fruto de inquietação e busca, como a do negociante que procura pérolas preciosas. Assim foi com S. Agostinho e S. Edith Stein e outros 'buscadores'.
Diante do tesouro e da pérola, o camponês e o negociante vendem o que tinham, para ganhar uma vida com outros horizontes. Quem se deixa encantar por Jesus de Nazaré encontra um tesouro precioso. Deixa "perder" tanta coisa que o mundo absolutiza (luxo, aparência, luta pelo poder, etc.), para viver uma vida com gosto a plenitude, ao estilo do Mestre.
Que tesouros buscas?
Nota: Na revista BÍBLICA, esta secção tem o nome de "À Mesa do Pão e da Palavra".