29 de janeiro
4º domingo do Tempo Comum
Leituras: 1ª: Sf 2,3; 3,12-13. Salmo: 146/145,7.8- -9a.9bc-10. R/ Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. 2ª: 1 Cor 1, 26-31. Evº: Mt 5,1-12a. IV Semana do Saltério.
FELIZES! (Sermão da montanha, 1)
No domingo passado, ouvimos o apelo a ‘converter-nos’, para acolhermos a novidade absoluta do Reino de Deus. Hoje, Jesus apresenta-nos a ‘carta magna’ desse Reino — as ‘bem-aventuranças’, uma estranha declaração de felicidade. Quem é feliz, de acordo com a mentalidade actual? Quem tem poder e sucesso, quem acumula bens… E, no tempo de Jesus, quem era dito feliz? A pessoa bem-sucedida, com filhos, terras e bens, observante da Lei divina. E Jesus de Nazaré?… Não tinha filhos nem bens. Era um profeta itinerante, que atraía multidões, mas fugia dos aplausos. Um Mestre que ousou quebrar a Lei divina, quando estava em jogo o bem da pessoa; que colocou no centro da sua missão os excluídos. Era feliz, Jesus de Nazaré? Sim. O homem mais feliz e mais livre que o mundo já conheceu! Que teve a coragem de romper com o padrão de felicidade que ainda hoje nos ilude, desafiando-nos a olhar a vida de outro modo: «Felizes os pobres, os mansos, os misericordiosos, os perseguidos…»Esta continua a ser a proposta do Mestre, hoje. Forte, desinstaladora, como todas as utopias. Mas só as utopias nos fazem vencer o raquitismo, sair de nossas zonas de conforto — e ser Homens, Mulheres, com Maiúscula. Felizes!
5 de fevereiro
5º domingo do Tempo Comum
Leituras: 1ª: Is 58,7-10. Salmo: 112/111,4-5.6- -7.8a e 9. R/ Para o homem reto nascerá uma luz no meio das trevas. 2ª: 1 Cor 2,1-5. Evº: Mt 5,13-16. I Semana do Saltério.
UMA LUZ NA CIDADE! (Sermão da montanha, 2)
No domingo passado, ouvimos Jesus proclamar as ‘bem-aventuranças’, a carta de identidade dos cristãos de todos os tempos. Hoje, continua a desafiar- -nos: vós, que assim viveis, sois «sal e luz»! O sal ajuda a conservar os alimentos (mais ainda na antiguidade!) e dar sabor à comida. Sabor tem também a ver com saber, sabedoria. A luz ilumina, aquece, vence a escuridão e o medo.«Vós sois o sal da terra»! Vós que lutais por ser misericordiosos e benignos, justos e reconciliadores… dais à vida outro sabor. E não deixais que ela seja sem gosto nem sonho. Vós que não vos deixais vencer pelo medo, a superioridade e a indiferença, sois sal que conserva os valores altos da vida.«Vós sois a luz do mundo»! Que a vossa fé seja testemunho luminoso; não uma religião opaca, sem garra. Que o vosso seja um cristianismo desinstalado, que questiona, incomoda. Que sejais uma casa «sobre o monte», para que se «vejam as vossas boas obras, e o Pai seja glorificado»; para que muitos se interroguem e encontrem no Evangelho o sentido da vida. «Se retirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo,... a tua luz brilhará na escuridão» (Is 58).Que a vossa presença seja uma Luz na cidade!
12 de fevereiro
6º domingo do Tempo Comum
Leituras: 1ª: Sir 15,16-21 (15-20). Salmo: 119/ 118, 1-2.4-5.17-18.33-34. R/ Ditoso o que anda na lei do Senhor. 2ª: 1 Cor 2,6-10. Evº: Mt 5,17-37. II Semana do Saltério.
TEU CORAÇÃO. TEU OLHAR. TUA HUMANIDADE (Sermão da montanha, 3)
A religião judaica centrava-se na oferta de sacrifícios e na observância dos preceitos da Lei divina. Uma religião do dever, que resvalava em ritualismo e legalismo. Os praticantes mais estritos (escribas e fariseus) sentiam-se merecedores face a Deus e superiores face ao resto do povo, a quem desprezavam. Jesus convida-nos a ir além dessa religião, fria e calculista, sem calor nem compaixão: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus». Se não aprenderdes a ir além da letra da Lei, não saboreareis o gozo da comunhão com Deus e com os irmãos de humanidade! É preciso alargar a visão:«Não matarás», nem com o rancor, o desprezo ou a palavra malvada... Importa desarmar o coração, ver no outro um irmão, não uma ameaça.«Não cometerás adultério». Se olhares uma pessoa desejando possuí-la, já cometeste adultério. Porque a vês como um objecto. Porque falsificas, adulteras, o mistério de Deus que habita nela e em ti.«O que os olhos não viram, o que o coração não pressentiu, Deus preparou para aqueles que o amam» (1 Cor 2). Deus preparou para ti, para mim: um Coração, um Olhar, uma Humanidade... cheios de Luz! Jesus de Nazaré ensina-nos o caminho…
19 de fevereiro
7º domingo do Tempo Comum
Leituras: 1ª: Lv 19,1-2.17-18. Salmo: 103/102,1- -2.3-4.8.10.12-13. R/ O Senhor é clemente e cheio de compaixão. 2ª: 1 Cor 3,16-23. Evº: Mt 5,38-48. III Semana do Saltério.
A OUTRA FACE (Sermão da montanha, 4)
Na convivência social, os antigos seguiam a lei do talião (olho por olho, dente por dente), uma espécie de ‘vingança equilibrada’, que Jesus desafia a superar: «A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra». Não convida à submissão, mas a não deixar-se aprisionar no círculo infernal da vingança, da desumanização. Os cristãos são chamados a dar «outra face» ao ambiente em que vivem. Umas vezes, aceitando perder o ‘direito à retaliação’. Outras, perdoando, amando a fundo perdido. Isso exige um trabalho interior, tenaz, paciente. Capaz de ir curando o pequeno ‘vingador’ que mora em cada um de nós. Mas o Mestre sobe a fasquia: «Amai os vossos inimigos. Orai pelos que vos perseguem». Palavras dissonantes para a lógica do mundo. Seguem outra lógica: a de Deus, que «faz brilhar o sol sobre bons e maus, chover sobre justos e injustos». Porque, para Ele, há apenas filhas e filhos. Então, sou «filho do Pai celeste» se abro as portas do coração à energia divina que permite reverter a lógica do mal com a força do bem. E serei capaz de «amar os inimigos», pois descobrirei que, simplesmente, não há inimigos; apenas seres humanos a quem o desamor ensombrou a face e o coração.
26 de fevereiro
1º domingo da Quaresma
Leituras: 1ª: Gn 2,7-9; 3, 1-7. Salmo: 51/50,3-4.5-6a.12-13.14.17. R/ Pecámos, Senhor: tende compaixão de nós. 2ª: Rm 5,12-19. Evº: Mt 4,1-11. I Semana do Saltério.
TENTAÇÃO NOSSA DE CADA DIA
O evangelho fala-nos de 3 tentações de Jesus, no início da sua missão pública — uma síntese simbólica das provas que acompanharam o Mestre ao longo da vida.«Transforma estas pedras em pão». Explora o ponto fraco da gente, sacia a sua fome de consumir coisas — e terás uma multidão de seguidores! «Nem só de pão vive o homem!» Jesus recusa manipular o ‘pão de cada dia’. Não busca seguidores saciados de egoísmo. Quer-nos famintos de ideais, sedentos de justiça.«Atira-te daqui abaixo… os seus anjos cuidarão de ti». Usa o poder de Deus para dar show, impressionar! «Não tentarás o Senhor, teu Deus!» O Mestre ensina-nos a confiar em Deus, não à força de milagres, mas pelo milagroso Amor que nos acompanha. A cada dia. Em cada prova.«Tudo isto te darei, se me adorares». Tens um poder imenso, manipula as pessoas, e o mundo cairá a teus pés! «Só ao Senhor adorarás». Só Deus merece que lhe entreguemos o coração, o centro do nosso ser. O deserto é o palco da vida, com suas ambiguidades e contradições. Que nos põem à prova, que nos podem fazer vacilar na fidelidade ao Evangelho. O Mestre diz-nos: é possível vencer a sedução do Mal com a força do Bem. A Graça Amorosa de Deus sustenta-nos nessa luta!
5 de março
2º domingo da Quaresma
Leituras: 1ª: Gn 12,1-4a. Salmo: 33/32,4-5.18-19.20.22. R/ Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia. 2ª: 2 Tm 1,8b-10. Evº: Mt 17,1-9. II Semana do Saltério.
SAI DE TI, VAI… TRANSFIGURA O TEU OLHAR.
Abraão recebe um estranho convite: «Sai da tua terra, da tua família, e vai para onde Eu te disser». Uma mudança radical de vida! O patriarca aceita o desafio de Deus e faz-se peregrino — germe dum povo novo. Um povo abençoado, multiplicador de bênção. Não há Quaresma sem saída. Sair, para seguir o Deus peregrino, que aceitou o desafio de sair de si e se fazer um de nós, em Jesus de Nazaré. Uma mudança radical de vida!Sair… e subir ao monte. Como os discípulos, que aí ‘viram’ de outro modo. A seus olhos, Jesus se ‘transfigurou’. ‘Viram’ que o coração do Mestre resplandece de Amor, como o sol. ‘Viram’ que todo o seu ser (‘vestes’) irradia luz, Alento. Sair, deixar o que nos é familiar sobre Deus e sobre nós mesmos… e ‘ver’ com outros olhos. Descobrir o encanto da Luz, no rosto do Nazareno, na face de cada pessoa. Só uma fé que peregrina cada dia, deixando para trás as suas certezas, é capaz de ‘ver’ Jesus e a vida de outro modo. O essencial da Quaresma não é a penitência; é a perseverança no sair. Não é o calar; é o escutar. Fazer silêncio para que a Voz do Mestre se faça Presença. «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o». Segui-O! Nele, a vossa vida se faz luz, irradia bênção.
12 de março
3º domingo da Quaresma
Leituras: 1ª: Ex 17,3-7. Salmo: 95/94,1-2.6-7.8-9. R/ Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. 2ª: Rm 5,1-2.5-8. Evº: Jo 4,5-42. III Semana do Saltério.
DÁ-ME DE BEBER!
Na Samaria, sob um sol ardente, Jesus chega a um poço e aí pede a uma mulher: «Dá-me de beber!» Inicia-se um diálogo, que se vai tornando num curso de água fresca, cintilante… Os judeus desprezavam os samaritanos, por eventos do passado. E um mestre judeu não podia falar com uma mulher a sós. Jesus rompe preconceitos, cria pontes. No diálogo aos zig-zags, a mulher vai descobrindo uma outra ‘água’: aquela que mata a sede de vida autêntica, plena! Água cristalina, que brota do coração de Deus, oferecida gratuitamente a cada ser humano. Agora é a mulher quem pede: «dá-me dessa água!». E descobre que Jesus é a Água mais pura que jamais provou. E o Mestre faz-lhe descobrir que nela mesma existe uma fonte, apenas adormecida, esperando uma ocasião para jorrar — e irrigar a vida dela e a de outros. Cada um de nós tem um pouco de samaritana, com ‘cinco maridos’: amores desacertados, ídolos cheios de promessas, mas incapazes de encher o poço do coração. Em Jesus, Deus vem a nós, fala-nos ao coração. E oferece. Não águas ilusórias, que nos deixam sempre vazios, desiludidos... Oferece a si mesmo, Vida Plena (‘eterna’), que faz jorrar o nosso poço de beleza, dando sabor à vida nossa e dos outros.
19 de março
4º domingo da Quaresma
Leituras: 1ª: 1 Sm 16,1b.6-7.10-13a. Salmo: 23/22, 1-3a.3b-4.5.6. R/ O Senhor é meu pastor: nada me faltará. 2ª: Ef 5,8-14. Evº: Jo 9,1-41. IV Semana do Saltério.
CEGO É QUEM PENSA QUE VÊ
Jesus, acompanhado dos discípulos, cruza com um cego de nascença. Os discípulos preocupam- -se, não com a pessoa, mas com a doutrina: «Foi ele quem pecou, ou os seus pais?». Nem o cego, nem os seus pais pecaram. Esta é uma ocasião «para que as obras de Deus se manifestem»: pondo-se do lado dos fracos, operando a seu favor! E Jesus cura o cego. O que provoca outra discussão... doutrinal! Os fariseus, guardiães da doutrina e da moral, sentenciam: ‘Quem o curou só pode ser um pecador: não observa o preceito do sábado’. O Deus dos fariseus (e de muitos cristãos!) é um Deus fiscal, preocupado com a observância dos preceitos; propenso a castigar, mais que a socorrer. O Deus de Jesus Cristo tem outra face: é um Pai compassivo, que luta ao nosso lado contra o mal. E se alegra com o nosso bem. Como o do cego, que renasceu, é outra pessoa. Afinal, quem é o verdadeiro cego? É a grande questão que o evangelista deixa no ar. Cego é quem pensa ver, saber tudo; quem é arrogante, autossuficiente, como os fariseus. Quem não precisa questionar-se, rever suas posições. Cega é a Igreja, quando põe ênfase na doutrina e nos rituais, e não vai para a rua, ao encontro do ‘mundo ferido’, como o seu Mestre.
26 de março
5º domingo da Quaresma
Leituras: 1ª: Ez 37,12-14. Salmo: 130/129,1-2.3-4ab.4c-6.7-8. R/ No Senhor está a misericórdia e abundante redenção. 2ª: Rm 8,8-11. Evº: Jo 11,1-45. I Semana do Saltério.
AMOR e DOR, MORTE e VIDA
A casa dos amigos de Jesus, em Betânia, está envolta em luto e abatimento: a morte roubou a vida a Lázaro. As irmãs choram; os amigos vieram consolá-las. Mas faltava “o” Amigo: Jesus. Quando chega, faz-se plenamente solidário, e chora. Deus partilha a nossa dor! Vai até ao âmago da nossa fragilidade. E manifesta a sua «glória»: revela-se, através de suas obras, que saram nossa dor, dão vida e esperança.«Vem para fora!», clama o Amigo. Lázaro (= “amigo de Deus”) volta à vida. Um dia morrerá, mas a morte não lhe fará medo. Certo de Alguém que o ama e que é mais forte que o abismo do Nada. «Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá!» «Crês nisto?», pergunta Jesus a Marta, a mim, a ti. «Sim, eu creio». Marta sabe quão frágil é a fé, quando atravessada pela prova. Mas a fé é mais que profissão dum credo; é acto de profunda confiança, nascida duma relação de amor. Quem crê carrega o germe da ressurreição; sabe que a morte não é a última palavra da vida. Porque o Amor é mais forte que a morte! Às vezes sentimo-nos abatidos, ‘mortos’. Nessas horas, precisamos de ouvir a voz do Amigo, chamando-nos a sair do túmulo da desesperança: «Vem para fora»!
Nota: Na revista BÍBLICA, esta secção tem o nome de "À Mesa do Pão e da Palavra".