6 de fevereiro
V DOMINGO COMUM
“JÁ QUE O DIZES, LANÇAREI AS REDES”
A pesca abundante é precedida de um fracasso total! «Já que o dizes, lançarei as redes» – diz Pedro, depois de denunciar o fracasso. O evangelista Lucas prepara o momento da eleição dos Doze com o relato da vocação dos primeiros discípulos e da pesca abundante. A passagem do fracasso ao sucesso da pesca possui um profundo significado teológico: alcançam o sucesso, quando atuam em nome de Jesus Cristo. «Já que o dizes», isto é, contigo não temos a perder, sempre a ganhar! Em nome de Jesus Cristo é viver de acordo com a sua maneira de pensar e de agir. É muito mais do que acrescentar o nome dele no termo das orações! Porque, quando rezamos «por Jesus Cristo, nosso Senhor», queremos que a nossa vida seja iluminada pela maneira de ser e de viver do próprio Mestre. É por ele que rezamos; é também por ele e com ele que podemos viver no dia a dia. «Já que o dizes, lançarei as redes»: tem de ser também a nossa atitude ao começar cada novo dia, cada novo trabalho ou projeto de vida.
A confiança não nos isenta de correr riscos e enfrentar dificuldades. Por isso, precisamos de deixar ecoar as palavras do Mestre: «Não temas». O medo e a fé são incompatíveis. Enquanto continuarmos mergulhados no medo, nunca teremos a confiança e a coragem para crescer e amadurecer como cristãos. O medo paralisa. Torna-nos cobardes e temerosos. A confiança, a fé, torna-nos fortes. A fé é convite a ir mais além, a ‘lançar as redes’. Dá-nos a capacidade para proclamar a presença de Deus em toda a nossa vida. Confio e espero em Jesus Cristo, mesmo quando não vejo frutos imediatos?
13 de fevereiro
VI DOMINGO COMUM
“ALEGRAI-VOS E EXULTAI”
Após o chamamento dos primeiros discípulos, o Sexto Domingo (Ano C) propõe o início de um longo discurso de Jesus Cristo, a partir do evangelho de Lucas. O texto tem semelhanças com as outras célebres bem-aventuranças, segundo o evangelista Mateus, mas é mais breve. Neste caso, o evangelista coloca na boca do Mestre apenas quatro bem-aventuranças (e acrescenta quatro advertências: «Ai de vós»); em Mateus são formuladas na terceira pessoa do plural; aqui, na segunda pessoa do plural, são mais dirigidas aos ouvintes do que afirmações majestáticas. As três primeiras formam uma tríade homogénea, até na estrutura: «vós, os pobres... vós, que agora tendes fome... vós, que agora chorais». Reforça o ‘agora’ da pobreza, da fome e da aflição. É um tom mais profético do que sapiencial.
Vale a pena lembrar que, em Lucas, há uma maior sensibilidade sobre a predileção de Jesus Cristo pelos pobres. A eles se destina a felicidade, não por serem pobres, mas porque Deus está sempre do seu lado. «Alegrai-vos e exultai»: a meta é, portanto, a felicidade. «O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa». Com estas palavras, o Papa Francisco inicia um itinerário de santidade, na exortação apostólica precisamente com o mesmo título: «Alegrai-vos e exultai». As bem-aventuranças são o «bilhete de identidade», são a resposta à pergunta sobre o que fazer para ser um bom cristão.
20 de fevereiro
VII DOMINGO COMUM
“SEDE MISERICORDIOSOS”
Continua o «sermão da planície», agora sobre a paz que se obtém através do perdão e da reconciliação. Mantém-se o foco nos ouvintes, desta vez através de imperativos. As exortações do Mestre, do princípio ao fim deste trecho do evangelho segundo Lucas, tanto nos deixam sem fôlego, como nos enchem de entusiasmo, ‘cheios de Deus’. A tónica é dada pelos primeiros quatro imperativos, talvez demasiado ousados para o habitual, ontem como hoje: «Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam». Como é possível? Jesus Cristo não nos convida à neutralidade ou passividade. Sempre o contrário. O Mestre desafia-nos a um comportamento positivo e ativo, ao mesmo tempo, em favor do amor e da paz. Nada abstrato ou discurso supostamente utópico. As palavras dizem o que fazer e como fazer, em qualquer relação com os outros. Trata-se de assumir o compromisso da fraternidade, com quem quer que seja, sem atender à postura da outra pessoa. Uma fonte de amor e de misericórdia jorra do coração perfeito do Pai para irrigar todas as pessoas, a começar pelos discípulos de Jesus Cristo: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso».
Cada um tem em si o poder divino de transformar o mundo. Assim «sereis filhos do Altíssimo». Quando a violência não gera violência, fica enfraquecida e, então, pode emergir a beleza e a grandeza da misericórdia e do amor. Experimenta e confirma-o!
A pergunta é inevitável: Estou disposto a seguir o Mestre? Como é que vou começar?
27 de fevereiro
VIII DOMINGO COMUM
“O QUE TRANSBORDA DO CORAÇÃO”
Nova etapa, a última, no valioso capítulo sexto do evangelho segundo Lucas, o nosso conhecido «sermão da planície». Lucas agrupa uma série de imagens com a palavra «parábola» e fala de uma possível cegueira no caminho de discipulado. Da imagem passa à realidade: da árvore e dos frutos para o homem bom ou mau. O coração é o elemento central, ‘tesouro’, «pois a boca fala do que transborda do coração». Jesus Cristo levanta perguntas, propõe comparações, para nos convidar a refletir sobre a nossa verdadeira identidade, sobre aquilo que nos configura, a partir de dentro, enquanto humanos e cristãos. Alguns tópicos decorrem deste fragmento do evangelho, tal como nos é proposto neste Oitavo Domingo (Ano C): a utilidade de termos um (bom) acompanhador espiritual; a importância de nos conhecermos melhor, auto-conhecimento ou exame de consciência, antes, e em vez, de nos pronunciarmos sobre o comportamento dos outros; a consciência do impacto (positivo ou negativo) do que habita o nosso coração.
A Boa Notícia é para ser vivida, é para produzir bons frutos. O Papa Francisco costuma falar das três linguagens do cristão: a linguagem da cabeça, a linguagem do coração, a linguagem das mãos. Quando falta uma destas linguagens, a nossa identidade cristã está incompleta: saber, sentir, fazer. Dito de outra forma: saber o que é o discípulo; sentir-se discípulo; agir como discípulo de Jesus Cristo. Sei, sinto e vivo como discípulo do Mestre, em comunidade fraterna, ou prefiro tornar-me mestre dos outros?
06 de março
I DOMINGO DA QUARESMA
“NÃO TENTARÁS O SENHOR TEU DEUS”
No texto do evangelho segundo Lucas, Jesus Cristo percorre o mesmo caminho de João Batista, mas em sentido contrário: do Jordão para o deserto. Uma outra diferença: no deserto, João ouviu a voz de Deus, Jesus escuta a voz do diabo.
O deserto, no contexto bíblico, é sempre um lugar desconcertante, no qual a pessoa, individual ou coletiva, pode fazer a experiência de Deus ou do diabo. No caso de Jesus Cristo, o deserto é lugar de confronto com a tentação, isto é, a possibilidade de ser infiel à missão confiada pelo (Deus) Pai. Mas a resposta é resoluta: «Não tentarás o Senhor teu Deus».
Nos passos do Mestre, somos convidados a ir ao deserto conduzidos pelo Espírito Santo. O deserto quaresmal confronta-nos com a nossa identidade e missão. Entramos no deserto quaresmal com os pés descalços, mãos vazias e coração aberto, para que se possam encher dos dons divinos. Entramos com os olhos fixos na palavra de Deus, a qual há de brotar dos nossos lábios como confissão de fé. No centro do combate está a palavra de Deus. «É preciso realçar que, quando é tentado pelo diabo, o Senhor responde com textos da Sagrada Escritura. […] É assim que Ele nos ensina a suportar as provações» (São Gregório Magno).
Neste tempo de Quaresma, posso fazer a experiência de me enraizar na palavra de Deus, através da escolha de um texto-base: pode ser um versículo, um hino, um salmo, que vou meditar com mais frequência e sobre o qual me vou apoiar. A palavra de Deus seja a minha rocha!
13 de março
II DOMINGO DA QUARESMA
“ENQUANTO ORAVA, ALTEROU-SE O ASPECTO DO SEU ROSTO”
O relato da Transfiguração, no evangelho segundo Lucas, está associado à experiência de oração: «Enquanto orava, alterou-se o aspeto do seu rosto…». Assim também a nossa transfiguração começa na oração, «espaço de acolhimento da alteridade de Deus […]. A oração age sobre aquele que reza e faz emergir a sua identidade profunda» (Luciano Manicardi), ilumina o caminho existencial até à plena transfiguração. Ao mesmo tempo que se altera o aspeto do rosto e emerge uma «brancura refulgente», também aparecem Moisés e Elias para lembrar a «morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém». Semelhante paradoxo acontece com a nossa transfiguração.
Ser atravessado pela luz pascal exige a renúncia ao mal e ao pecado, não apenas em geral, mas nas situações concretas da vida. Por isso se sente a dor da renúncia, em simultâneo com o prazer de uma vida transfigurada. A Quaresma prepara-nos para celebrar os mistérios do Tríduo Pascal e renovar, uma vez mais, na Vigília Pascal, as promessas batismais. Não são suficientes as palavras «sim, renuncio» e «sim, creio». Para que as promessas batismais sejam conscientes e eficazes é conveniente viver ativamente nos dias quaresmais o compromisso dessas afirmações. Chegaremos às celebrações pascais com as mãos e o coração cheios de renúncias e de profissões de fé. Na Vigília Pascal, as palavras serão acompanhadas pelas obras concretas de cada dia quaresmal. Assim acontece a verdadeira transfiguração!
20 de março
III DOMINGO DA QUARESMA
“TALVEZ VENHA A DAR FRUTOS”
Os três últimos domingos da Quaresma deste ciclo litúrgico têm como tópico central a conversão e a renovação da vida dos batizados. O evangelho do Terceiro Domingo da Quaresma (Ano C) apresenta uma parábola, na qual o vinhateiro insiste numa nova oportunidade para a figueira estéril: «talvez venha a dar frutos». Jesus Cristo serve-se do diálogo com os seus interlocutores para destacar a importância da conversão. Assim começa uma vida frutífera, repleta de abundantes frutos. A parábola coloca em destaque o coração do vinhateiro que não hesita em negociar com o seu senhor: insiste numa «última chance» para aquela árvore; promete cuidar dela.
O tempo quaresmal é um espaço privilegiado para contemplar o rosto deste vinhateiro que dá tempo à conversão e para deixar que ele cuide de nós e das nossas resistências. Essa é a imagem de Deus transmitida por Jesus Cristo: não um castigador e vingativo (como outros diziam!), mas um Deus paciente e misericordioso. Cavar a terra em volta e deitar adubo abre à esperança de passar da esterilidade à fecundidade. Em perspetiva vital, trata-se de aprofundar as razões da existência, purificar as fontes da vida, transformar os males em ocasiões fecundas, querer sempre novos frutos. Um fruto quaresmal é promover a dinâmica da bondade e do cuidado em detrimento da lógica da indiferença e da violência. Esta pode ser a expressão da nossa pessoal e comunitária conversão ao Evangelho.
27 de março
IV DOMINGO DA QUARESMA
“TU ESTÁS SEMPRE COMIGO”
A conversão envolve a dinâmica da parábola, principalmente na ótica do pai, um pai amoroso, misericordioso. Ele está sempre disposto a abrir mão de si e do que é seu. A um, ao mais novo, entrega-lhe parte da herança, sem o contrariar. Ao outro, mais velho, diz-lhe de forma clara: «Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu». A parábola, no nosso percurso quaresmal, aponta-nos o regresso à inocência e à brancura batismais, o regresso à casa paterna. Estamos no Quarto Domingo da Quaresma (Ano C), cada vez mais próximos da meta pascal. É o «Domingo da Alegria»!
As palavras de Jesus Cristo insistem no amor do pai, um amor incondicional e ilimitado, que não só acolhe o filho mais novo que regressa a casa, como também se dispõe a entender-se com o filho mais velho que se opõe à manifestação festiva desse amor. Em ambos os filhos existe uma grande dose de egoísmo: o mais novo, porque quer viver à sua maneira, sem regras; o mais velho, porque tem o coração fechado à partilha, sem reservas. «A parábola revela a dificuldade de reconhecer e compreender o amor, de acolher a misericórdia: custa aos dois filhos, de modo diferentes, aceitar a sua condição de filhos e o amor do pai» (Luciano Manicardi). É útil perceber que o que realmente torna possível a (nossa) conversão é o amor infinito do pai (Deus), algo inimaginável para a nossa estreita forma de amar. E a consequência imediata daquele tipo de amor é a alegria, a festa.