27 de novembro
1º domingo do Advento
ADVENTO: ESPERA, ATENÇÃO.
É novamente Advento! Tempo de Espera, de palpitação por Alguém que vem! É sempre Ele, o Deus-connosco, Aquele que já veio (e que “veremos”, de novo encantados como crianças, no Mistério de Belém); Aquele que ainda vem: a cada dia, até ao final da História.O evangelho de hoje interpela-nos imediatamente: como é a nossa Espera: atenta? Nos dias de Noé – lembra Jesus – a gente trabalhava, casava, procriava, festejava... E não se deram conta do dilúvio. Tinham uma vida demasiado “normal”, à volta dos seus interesses; incapazes de “ver” outras realidades, escutar outros apelos, respirar outros ares. Também hoje, vivemos tomados pelo corre-corre, o trabalho, o dinheiro,… Vivemos à superfície. E vamos ensurdecendo o Ouvido Interior, indiferentes à Voz de Deus, à sorte dos outros, ao sentido dos acontecimentos. Até as nossas práticas religiosas são uma multiplicação de ritos e orações exteriores, mais que escuta e encanto.Advento é convite à Vigilância, a aguçar o Olhar e o Ouvido Interior. Atentos às surpresas de Deus que vem a qualquer hora, «como um ladrão», em cada pessoa. Não para nos assustar, mas para nos desafiar a darmos sentido novo à vida, a exprimirmos a melhor versão de nós.
4 de dezembro
2º domingo do Advento
NO DESERTO, BROTOS DE VIDA NOVA.
Mateus leva-nos hoje ao deserto, para aí ouvirmos o Baptista. O deserto, na Bíblia, é o lugar do Silêncio, da Escuta, do Encontro desarmado com Deus. No deserto, João fala (apelo à conversão) e baptiza (sinal de conversão).No tempo do profeta Isaías, Israel vive uma grave crise. Mas o profeta “vê” além da escuridão: «Um rebento brotará do tronco de Jessé, um renovo despontará de suas raízes». De um tronco velho (Jessé) irrompe um broto novo (David). Isaías e João iluminam o nosso Advento. Nuvens densas ensombram o presente da humanidade. Da pandemia passámos à guerra. Os “diferentes” – migrantes, refugiados, os de outra cultura ou religião…– são vistos como ameaça. Precisamos de apurar o Olhar Interior, para “ver” além da densa sombra: Que Mundo queremos construir? Que Humanidade queremos ser? Para Isaías, Deus quer um mundo de inclusão, onde convivam «o lobo e o cordeiro, a criança e a serpente»... o judeu e o árabe, o muçulmano e o cristão, o de pele escura e o de pele clara…Para o Baptista, o segredo é a conversão: aprender a “ver” o mundo e a vida com os olhos de Deus, a “sentir” com o seu coração! Então, de nossos troncos velhos, despontarão brotos de vida nova!
11 de dezembro
3º domingo do Advento
ÉS TU AQUELE QUE DEVE VIR?
O 3º domingo do Advento põe-nos diante duma grande pergunta: Que Messias esperamos? João Baptista é novamente nosso guia. Pela sua fortaleza e pela sua fragilidade. Dele, Jesus diz: não fostes ao deserto ver uma «cana agitada pelo vento», um charlatão, que se acobarda diante do perigo. Fostes ouvir um profeta, e «mais que profeta»! Alguém que enfrentou o tirano de turno (Herodes) e pagou com a morte a sua ousadia. Um facho de coerência e coragem! «O maior entre os nascidos de mulher!»O grande profeta, porém, é o frágil João. Estando na prisão, ouve falar das obras de Jesus e duvida: «És Tu aquele que está para vir ou devemos esperar outro?»Jesus de Nazaré, afinal, não respondia às suas expectativas messiânicas: não tinha expulsado os romanos pela força; não condenava os pecadores, antes, comia com eles. Punha o resgate das pessoas acima das prescrições religiosas. Que Messias esperamos nós? Alguém que encaixe nos nossos esquemas? A quem “domesticamos” com nossas promessas e práticas religiosas? Que Messias anunciamos ao mundo? O que é que as pessoas «vêm e ouvem» na Igreja?O que as pessoas «vêem e ouvem» em nós, que as faça aproximar de Jesus com confiança e esperança?… «És Tu?…»
18 de dezembro
4º domingo do Advento
UM JUSTO. UM SONHO.
A vinda do Filho de Deus dá-se entre sonhos e angústias, como nas normais histórias de vida. Dois jovens enamorados, José e Maria, em Nazaré, periferia do mundo, sonham formar uma família. Mas quando o Sonho de Deus cruza os seus sonhos, acontece o totalmente Novo! Não sem lutas e angústias. Segundo a tradição judaica, Maria foi dada por esposa a José, mas só dentro de um ano consumarão o matrimónio. A jovem, porém, aparece grávida. José, de mãos calosas e coração terno, sente-se ferido, em profunda crise: dividido entre cumprir a lei divina (repudiar publicamente Maria) ou continuar a amar aquela jovem maravilhosa. Sendo «justo, resolveu deixá-la em segredo». Mais que justo, Grande! Vai além da dor de “macho” ferido; guia-se pelo respeito e a compaixão. Buscando, sofrendo, orando... chega a resposta de Deus: «Não temas receber Maria. O que ela concebeu é obra do Espírito Santo». Deus sonha no sonho das pessoas justas. E lhes dá a coragem de olharem além de si. José entendeu que a sua vida era parte dum Projecto Maior: o de Deus, que nos faz sonhar Sonhos Divinos… de enorme Grandeza Humana! Com José, aprendamos a sintonizar os nossos sonhos com os de Deus, a viver “divina-humanamente”!
25 de dezembro
Natal do Senhor
NASCEU PARA NÓS!
Uma vez mais, aconchegamo-nos à volta dum Menino que nasce: Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José. Filho de Deus. Fruto bendito da nossa humanidade!Deus vem habitar um corpo humano. A nossa fragilidade se faz berço divino.«O Divino se faz carne e vem morar entre nós!» Nossas feridas são saradas, nossos sonhos transfigurados: «Hoje, para vós, nasceu um Salvador», diz o anjo aos pastores: aos pequenos, aos humildes, aos sem nome… A nós! A História recomeça de Belém, a periferia; não de Jerusalém, o centro do poder. Jesus nasce numa gruta, não num palácio; de um humilde casal da Galileia, não de uma distinta família da Judeia. Deus se faz um de nós, partindo dos últimos. Para que ninguém seja deixado para último. Cada Natal é grávido de uma nova Natividade. Não nasce apenas um Menino; nasce o Rebento duma nova Humanidade! Deus se faz pequeno, para que eu seja grande. E para que eu me faça pequeno, e os outros sejam grandes! Celebrar Natal é tornar o nosso olhar límpido, capaz de “ver”: Deus em mim, Deus em cada ser humano! E a vida se faz mais bela, mais plena… para todos!Afinal, «um Menino nasceu para nós»! Há um canto de júbilo no ar, uma dança de festa no terreiro. Não sentem?…
1 de janeiro 2023
Santa Maria Mãe de Deus
MÃE. BÊNÇÃO. PAZ.
Mãe é a primeira experiência de relação de todo ser vivo. O Eterno Filho de Deus fez-se filho do tempo humano, no seio duma Mãe: Maria de Nazaré – Santa Maria, Mãe de Deus, como os cristãos carinhosamente a chamam. Em cada novo ano, somos chamados a um novo começo. Gestados no ventre da Esperança. Maria ensina-nos o segredo da gestação: «Ela guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração». Juntava os acontecimentos e buscava o seu sentido: unia o Filho do Omnipotente à frágil Criança em seus braços; os Anjos Luminosos aos pastores obscuros; a Divina pequenez à Humana grandeza. E percebia: com ela (e os “pequenos” como ela) Deus escreve uma nova História – «para que nos tornemos filhos e para que o nosso coração possa bradar: Abbá, Pai!» Maria é Mãe do Filho de Deus para que nos tornemos filhos de Deus, irmãos duma nova Humanidade. Para isso, deixemos que, em nós e por nós, germine a Bênção e a Paz: «O Senhor te bendiga e te guarde… O Senhor te dê a paz!» Abençoados, levemos Bênção, irradiemos Paz. Porque somos «filhos» e «herdeiros»: herdeiros da Vida, da Bênção, da Paz. Ao longo do ano, com jeito materno, cuidemos desses bens preciosos — fundamentais para o nosso mundo…
8 de janeiro 2023
Epifania
LEVANTA-TE. BUSCA.
Estamos já imersos no novo ano, e talvez nos perguntemos se não será “mais do mesmo”. Importante, por isso, é aprender com uns «magos do Oriente»: estudiosos, buscadores de sentido. Perscrutavam os sinais do céu, para entender os caminhos da terra. Guiados por uma Estrela, chegam a Jerusalém. A sua pergunta pelo novo rei acabado de nascer «perturba» Herodes e os poderosos. São consultados os especialistas religiosos, que conhecem bem as Escrituras. Mas que não se implicam. Representam uma religião de status quo, incapaz de se abrir aos movimentos da história e às surpresas de Deus; incapaz de transformação. Nasceu em Belém, indicam. E os magos prosseguem a sua busca. Ao encontrar o Menino, sentem «grande alegria e prostram-se». Reconhecem o Infinito incarnado no corpo finito duma criança! Deus faz-se hóspede da nossa humanidade. Na simplicidade duma casa. De Maria, de José. De qualquer um de nós!«Levanta-te!», é o grito de Isaías para nós, hoje. Só quem se levanta, sai de si, é capaz de encontrar o novo… Levanta-te! Busca! Uma Luz, suave mas certa, te iluminará os passos. Deus será para ti Epifania, revelação. Nos acontecimentos, nas pessoas, nas coisas escondidas da vida.
15 de janeiro 2023
2º domingo do Tempo Comum
CORDEIRO
Ao retornar da dura experiência do exílio, Israel, em crise, pergunta-se: temos ainda uma missão a cumprir no mundo? Isaías sintoniza o Ouvido Interior com a história, a voz de Deus e a vida da gente, e responde: nas experiências dolorosas, podemos amadurecer e abrir-nos a nova missão. Essa missão ele a vê encarnada no Servo de Javé, um facho de esperança para todos os povos: «Vou fazer de ti Luz das nações, para que leves a salvação até aos confins da terra!» Esse Servo começou, então, a ser identificado com o Messias esperado. E eis que chega Cristo Jesus, o Messias que a todos confunde. Esperava-se o «Leão da tribo de Judá», forte e poderoso; e veio o «Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo»! Não vem para castigar os maus e pôr ordem no mundo, como o nosso ego pretende. Escolhe ser «Cordeiro», a via da mansidão-doação – que me pode sarar do único grande «pecado»: o desamor, a fractura da separação: do meu eu mais íntimo; de Deus (tenho medo dele); dos outros (vejo-os como ameaça); da criação (não me sinto parte dela, uso-a irresponsavelmente).Seguindo os passos do Cordeiro (vida doada por amor), posso libertar-me dessa amarra – e com Ele ajudar a «tirar o pecado do mundo»!
22 de janeiro 2023
3º domingo do Tempo Comum
CONVERTEI-VOS: O REINO ESTÁ PRÓXIMO!
Quando João Baptista é preso, Jesus entra em cena, sai a descoberto, arrisca a vida. Troca Nazaré (rotinas e seguranças) por Cafarnaum (novos horizontes), para ser Sinal maiúsculo do Reino. Naquela «Galileia dos gentios, o povo que andava nas trevas viu uma grande luz»! Daquela região – terra marginal – recomeça o Projecto de Deus para a humanidade: «Convertei-vos: está próximo o Reino dos Céus!»«Convertei-vos» não é apelo à penitência; é chamada a crer que Deus é connosco. Mais que apelo a deixar o mal é chamada a deixar- -se “alcançar” pelo Amor Incondicional: o único capaz de nos curar e fazer que o Bem cresça entre nós. O Reino faz-se próximo, tangível, na palavra e nas acções de Jesus de Nazaré. Os primeiros a aceitar o desafio são Pedro e André, Tiago e João: «Vinde comigo, sereis pescadores de homens»: de gente disposta a abrir novos trilhos, a sonhar outro jeito de viver. O Projecto do Reino começa com uns pescadores. Imperfeitos, mas capazes de aprender mil vezes a “converter-se”, a deixar-se transformar pela Misericórdia e a Compaixão. Assim são as(os) discípulas(os) que o Mestre convoca hoje. É nossa, a hora de O seguir, de dizer com a vida: «o Reino de Deus está próximo»!
29 de janeiro 2023
4º domingo do Tempo Comum
FELIZES
No domingo passado, ouvimos o apelo a “converter-nos”, para acolhermos a novidade absoluta do Reino de Deus. Hoje, Jesus apresenta-nos a “carta magna” desse Reino — as “bem-aventuranças”, uma estranha declaração de felicidade. Quem é feliz, de acordo com a mentalidade actual? Quem tem poder e sucesso, quem acumula bens… E, no tempo de Jesus, quem era dito feliz? A pessoa bem-sucedida, com filhos, terras e bens, observante da Lei divina. E Jesus de Nazaré?… Não tinha filhos nem bens. Era um profeta itinerante, que atraía multidões, mas fugia dos aplausos. Um Mestre que ousou quebrar a Lei divina, quando estava em jogo o bem da pessoa; que colocou no centro da sua missão os excluídos. Era feliz, Jesus de Nazaré? Sim. O homem mais feliz e mais livre que o mundo já conheceu! Que teve a coragem de romper com o padrão de felicidade que ainda hoje nos ilude, desafiando-nos a olhar a vida de outro modo: «Felizes os pobres, os mansos, os misericordiosos, os perseguidos…»Esta continua a ser a proposta do Mestre, hoje. Forte, desinstaladora, como todas as utopias. Mas só as utopias nos fazem vencer o raquitismo, sair de nossas zonas de conforto — e ser Homens, Mulheres, com Maiúscula. Felizes!
Nota: Na revista BÍBLICA, esta secção tem o nome de "À Mesa do Pão e da Palavra".