7 de agosto
DÉCIMO NONO DOMINGO
“AÍ ESTARÁ O VOSSO CORAÇÃO”
O fragmento do evangelho proposto para o Décimo Nono Domingo (Ano C) convida a colocar o coração nas riquezas verdadeiras, aquelas que estão para além da dimensão terrena da nossa existência. Ditosos, se permanecemos vigilantes!
Além das possíveis (prováveis) situações adversas vindas do exterior, há que vencer o medo e as resistências internas, para entrar na lógica do Reino. Os únicos bens que podemos depositar com rendimento garantido são a atenção dada àqueles com os quais o Mestre se identifica: o pobre, o doente, o preso, o peregrino. Sim, o Reino de Deus pertence aos pobres, aos humildes, aos que choram, aos puros de coração…, mas não aos medrosos.
Na vida espiritual não há tempos mortos. É necessário renovar cada dia o compromisso que faz de nós discípulos missionários. É possível viver cada momento presente focado em acumular as riquezas que se guardam no tesouro do coração. «Riqueza, tesouro: eis o que é a opção cristã. Deixar algo para ganhar muito mais. Onde está o meu tesouro? Onde se encontra aquilo que considero mais precioso. O meu coração, o meu desejo, estão com aquilo a que dou mais valor. Amas a terra? Terra te tornarás. Amas a Deus? Tornar-te-ás como Deus, escreve Santo Agostinho. O homem transforma-se naquilo que ama» (Ermes Ronchi).
Só em Deus podemos encontrar o eterno tesouro. A vigilância é um antídoto contra a corrupção. As múltiplas ofertas próprias da nossa existência terrena precisam do sábio discernimento que não se deixa enganar pelos tesouros caducos.
Rezar o Salmo 32 (33) conforme a proposta litúrgica deste domingo
14 de agosto
VIGÉSIMO DOMINGO
“EU VIM TRAZER O FOGO À TERRA”
A palavra de Deus oferece a salvação e chama à conversão, consola e intranquiliza, apazigua e desinstala, é dádiva e missão. Precisamos de aprender a escutá-la com total abertura e obediência à fé. Sem essa disposição, a escuta poderá gerar indiferença no coração ou doentia insatisfação que em nada contribui para a conversão da nossa maneira de viver.
O trecho do evangelho proposto para o Vigésimo Domingo (Ano C) é um desses exemplos. Começa com as palavras surpreendentes de Jesus Cristo: «Eu vim trazer o fogo à terra».
O Mestre fala de um «fogo» de morte e de divisão, mas também de um «fogo» de paixão e de desejo. Quer o mundo abrasado pelo seu amor, apaixonado pelo Evangelho.
O cristianismo é vida e fogo, paixão e desejo, aventura e beleza. Escreveu o patriarca de Constantinopla, Atenágoras: «O cristianismo é a vida em Cristo. E Cristo nunca se fica pela negação, pela recusa. Fomos nós que carregámos o homem com tantos fardos! Jesus nunca disse: “Não façam, não se deve fazer”. O cristianismo não é feito de proibições: é vida, fogo, criação, iluminação».
Jesus Cristo não é um pirómano, um louco incendiário. Fala de fogo, sim, mas do fogo do Espírito Santo, o fogo da verdade que precisa de incendiar as nossas vidas, o fogo purificador, ardente, vivo e criativo. Não quer discípulos indiferentes ou satisfeitos com a mediocridade, muito menos com a hipocrisia. Quer discípulos missionários, autênticos e corajosos no testemunho da Boa Nova, também diante de circunstâncias adversas.
Rezar o Salmo 39 (40) conforme a proposta litúrgica deste domingo
21 de agosto
VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO
“ESFORÇAI-VOS POR ENTRAR PELA PORTA ESTREITA”
No Vigésimo Primeiro Domingo (Ano C), à pergunta sobre o número dos que se salvam, Jesus Cristo não responde com uma quantidade objetiva, mas com a preocupação subjetiva em fazer parte desse grupo: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita».
A porta é estreita para que nela entrem apenas os últimos, os humildes. Estreita porque nela «os pequeninos e as crianças passam sem dificuldade alguma. Porque, se te centrares nos teus méritos, a porta é estreitíssima: estás inchado de vaidade, de presunção, não passas. Se te centrares na bondade do Senhor, como uma criança se entrega às mãos do pai, a porta é larguíssima. […] Ninguém se salva por si mesmo, mas todos podemos ser salvos. A porta é estreita, mas ‘aberta’» (Ermes Ronchi).
A entrada é um dom divino e uma tarefa humana. A redenção levada a cabo pelo mistério pascal de Jesus Cristo alcança toda a Humanidade e toda a Criação. A universalidade da salvação está relacionada com a misericórdia divina, a essência de Deus: se é amor, a todos salvará. Mas a imagem da porta estreita recorda que a salvação resulta da união desse dom divino com a nossa resposta pessoal: precisa da nossa autenticidade e compromisso.
Há quem pense que a resposta pessoal fica resolvida com a participação na eucaristia dominical e alguns (muitos) momentos de oração diários. É capital, mas não suficiente. A autenticidade e o compromisso da resposta exigem que a nossa oração pessoal e comunitária tenham reflexo na vida, no testemunho prático da fé.
Rezar o Salmo 116 (117) conforme a proposta litúrgica deste domingo
28 de agosto
VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO
“SERÁS FELIZ POR ELES NÃO TEREM COM QUE RETRIBUIR-TE”
Jesus Cristo, na segunda parte da parábola do evangelho do Vigésimo Segundo Domingo (Ano C), propõe a generosidade autêntica, a que não espera mesmo nada em troca: «serás feliz por eles não terem com que retribuir-te».
Os discípulos missionários colocam os bens aos serviços dos outros. E não o fazem para benefício próprio, para serem elogiados. A vida cristã, como ensina o Mestre, conjuga generosidade com humildade.
Isaac de Nínive, monge cristão do século VII, fala da humildade como «vestido» de Deus, o «manto» usado por Jesus Cristo ao assumir a nossa carne. Interessante é a ligação que faz entre a verdadeira humildade e a alegria: «Existe uma humildade que vem do temor de Deus, e uma que vem do amor de Deus. Há quem se faça humilde pelo temor de Deus, há quem se faça humilde pelo prazer de Deus. A um acompanha-o a compostura dos membros, a ordem dos sentidos e um coração sempre contrito; ao outro, pelo contrário, uma grande dilatação e um coração que floresce e que não pode ser refreado». É bom viver a humildade com alegria!
Jesus Cristo provoca uma maneira de agir desconcertante. A felicidade consiste na participação na sua sorte: amar.
O mais frequente é esperar que nos devolvam os favores. Mas dessa forma já seremos recompensados. Ansiamos retribuição, o mais sensato, aos nossos olhos, é convidar os amigos, as pessoas com quem temos vínculos de amizade, o mais habitual é sentar à mesa quem já o fez connosco e o possa voltar a fazer, mais tarde ou mais cedo.
Rezar o Salmo 67 (68) conforme a proposta litúrgica deste domingo
4 de setembro
VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO
“NÃO PODE SER MEU DISCÍPULO”
O sinal da cruz volta a estar presente no fragmento do evangelho segundo Lucas do Vigésimo Terceiro Domingo (Ano C). Ser discípulo missionário é assumir a plenitude do amor como critério fundamental da vida. Isso é o que significa a cruz: amor. Então, faz todo o sentido a proposta do Mestre: «Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo».
A cruz é encontro de dois amores. Nela, a Cruz do Calvário, abriu-se para sempre a porta de acesso ao coração do Pai. Nela, a Cruz do Calvário, abriu-se para sempre a porta de acesso ao nosso coração. No encontro destes dois amores reside a verdadeira identidade e missão do cristão. O autêntico sentido do sinal da cruz é ser sinal do amor.
A experiência de ’tomar’ a própria cruz aprofunda a sabedoria do amor: renunciar a outros valores (efémeros) para alcançar os fundamentais. As palavras de Jesus não são uma crucifixão; são uma ressurreição do coração. O centro não está no ‘não’, mas no ‘sim’ ao mais belo que só Deus pode dar: ser de Deus, viver com Jesus Cristo.
«Que é a cruz? Sofrimentos problemas, doenças, crises, as tempestades da vida? Não, a cruz é o resumo da vida e condição de Jesus Cristo. Tomar a cruz significa tomar para si uma vida que se assemelhe à de Jesus: pensar os seus pensamentos, fazer as suas escolhas, preferir os que Ele preferia, viver uma vida como a sua, que sabia amar como ninguém, homem sem máscaras e sem medos. Toma sobre ti a tua parte de amor, de outro modo não vives; toma a tua parte de dor que cada amor traz consigo, de outro modo não amas» (Ermes Ronchi).
Rezar o Salmo 89 (90) conforme a proposta litúrgica deste domingo
11 de setembro
VIGÉSIMO QUARTO DOMINGO
“ALEGRAI-VOS COMIGO”
As ‘parábolas da misericórdia’, próprias do evangelho segundo Lucas, que ocupam o trecho do Vigésimo Quarto Domingo (Ano C), encaminham para a festa, a alegria: «Alegrai-vos comigo».
Através das parábolas, Jesus Cristo apresenta-nos Deus sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Cabe-nos acolher o perdão misericordioso e celebrá-lo com alegria.
Reza o Prefácio VI (dos Domingos do Tempo Comum): «Em Vós vivemos, nos movemos e existimos e, durante a nossa vida terrena, sentimos em cada dia os efeitos da vossa bondade e possuímos desde já o penhor da vida futura».
Há duas atitudes dominantes: a dor e a alegria. A dor causada pela perda de uma ovelha, uma moeda, um filho, dá lugar à alegria do reencontro. É bom sublinhar a alegria, mas sem esquecer a dor causada pela perda. Aprendamos a viver ambas como itinerário existencial que nos aproxima do amor divino. Este amor marcado pela dor e pela alegria faz da nossa vida pessoal e comunitária o lugar do perdão e da festa.
A alegria é fruto do perdão. O ser de Deus ensina-nos a não ficarmos presos à dor, mas a deixar que ela seja atravessada pela força do perdão que produz a alegria, devolve o sentido à vida. «Aceitar o perdão de Deus é um dos maiores desafios da vida espiritual. O seu perdão liberta-nos daquilo que nos tem aferrados aos nossos pecados, e não nos permite deixar que Deus nos ofereça um início totalmente novo» (Ermes Ronchi).
Onde está o meu coração: preso à dor do pecado ou mergulhado na alegria do perdão?
Rezar o Salmo 50 (51) conforme a proposta litúrgica deste domingo
18 de setembro
VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO
“QUEM É FIEL NAS COISAS PEQUENAS TAMBÉM É FIEL NAS GRANDES”
As parábolas têm sempre um tom provocador e desconcertante. A deste Vigésimo Quinto Domingo (Ano C) parece justificar a atitude do ‘administrador desonesto’ que, com malabarismos, quer assegurar o seu futuro.
Jesus Cristo não elogia as falsas habilidades do administrador, mas enaltece a sua sagacidade em resolver a situação: prestes a ser despedido procura uma salvaguarda futura. O Mestre aponta como critério a fidelidade: «Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes».
Hoje, mantém-se a ganância do dinheiro: «aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades». Este alerta tem ainda mais impacto no atual contexto em que há um claro predomínio do poder económico, «a ditadura duma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano» (EG 55).
A gestão do dinheiro é sempre necessária, faz parte da vida em sociedade. A moeda é um dos recursos úteis ao equilíbrio da vida social. Contudo, às vezes de uma forma subtil, podemos cair na armadilha que conduz à busca desenfreada de ganhos, à usura, à corrupção, ao roubo, a qualquer tipo de enriquecimento ilícito. Desculpamo-nos que se trata de uma pequena quantia, de algo insignificante, e pouco a pouco vamos cegando o nosso coração às virtudes essenciais de uma vida digna.
Queremos viver na busca do próprio benefício ou fazê-lo de acordo com as coordenadas evangélicas? Jesus Cristo desafia a ter em conta o pequeno, aquilo que parece insignificante. Assim se joga verdadeiramente a prova da fidelidade.
Rezar o Salmo 112 (113) conforme a proposta litúrgica deste domingo
25 de setembro
VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO
“ELES TÊM MOISÉS E OS PROFETAS: QUE OS OIÇAM”
A história do evangelho trata do tema da riqueza (e da pobreza), a partir do presente (existência terrena) mas tendo em vista o futuro (eternidade). O presente é sempre o ‘hoje’ de Deus, possuiu os alertas necessários para a conversão: «eles têm Moisés e os Profetas: que os oiçam».
É curiosa a insistência do rico que dirige a Abraão uma segunda súplica, depois de lhe ter sido negada a possibilidade de sentir a frescura da água. O segundo pedido é altruísta: lembra os irmãos, no sentido de serem prevenidos sobre as consequências de viverem indiferentes na opulência.
A dureza das palavras de Abraão, ao não ceder às petições do rico, aponta para a importância da solidariedade, pois enche as nossas mãos de boas obras diante de Deus.
O texto não apresenta o rico como explorador do pobre, não denuncia uma ação direta que provoca a miséria do pobre. O que está em causa é a sua indiferença.
O Papa Francisco não se cansa de alertar para a «globalização da indiferença» que se instalou nas nossas vidas. «Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos» (EG 54).
A fidelidade ao Evangelho também se avalia pela ausência do bem. O exame de consciência ou o momento penitencial da eucaristia tem de denunciar o mal praticado, mas também (talvez haja mais descuido!) as omissões, o que não foi feito em favor dos outros, como o pecado da indiferença.
Rezar o Salmo 145 (146) conforme a proposta litúrgica deste domingo