02 de abril
Domingo de Ramos
Leituras: 1ª: Is 50,4-7. Salmo: 22/21,8-9.17-18a.19-20.23-24. R/ Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes? 2ª: Fl 2,6-11. Evº: Mt 26,14–27,66. II S. Salt.
E ELE NÃO DESCEU DA CRUZ!…
A Semana Santa mergulha-nos no mistério incómodo dum Messias humilhado, um Deus crucificado! Mas é preciso superar a tentação do guião já conhecido. Deixemo-nos ferir pela ferida do Mestre, para ter acesso às suas chagas redentoras. Já o ambiente da última Ceia é dramático. Gestos e palavras do Mestre são puro amor: «Isto é o meu corpo, entregue. Este é o meu sangue, derramado. Por vós, por todos». Em contrapé, a traição de Judas… e depois a dos outros discípulos. Autoridades religiosas e políticas associam-se para eliminarem Jesus. Umas, porque não suportam mais a sua ousadia em questionar um sistema religioso opressor. Outras, porque é um revolucionário perigoso. Decididamente, «deve» morrer! A multidão, manipulada pelas autoridades, corrobora a sentença: «Seja crucificado!»A cruz incomoda. Desestabiliza-nos um Messias derrotado. Podemos até comover- -nos ao celebrar a morte de Jesus. Mas, na vida concreta, ansiamos por um Deus potente, que confirme a nossa escondida ânsia de poder. «Desce da cruz!», clamam(os). Mas Ele não desceu, solidário com os crucificados da história. Entretanto, as mulheres-discípulas põem-se «sentadas em frente ao sepulcro»: sentinelas da Manhã do Mundo Novo!
9 de abril
Páscoa da Ressurreição
Leituras: 1ª: At 10,34a.37-43. Salmo: 118/117,1- -2.16ab-17.22-23. R/ Este é o dia que o Senhor fez:exultemos e cantemos de alegria. 2ª: Cl 3,1-4. Evº: Jo 20,1-9. I Semana do Saltério.
CORRAMOS AO ENCONTRO DA VIDA
«No Primeiro Dia da semana, de Manhã, ainda escuro», uma corrida começa. Corre primeiro Maria Madalena, primeira das mulheres-discípulas. O coração dizia-lhe que a pedra que fechou a tumba não matou o seu Sonho. Um sinal confirma a sua intuição amorosa: o sepulcro está vazio! Nasceu o Mundo Novo?É a vez de Pedro e «o discípulo que Jesus amava» correrem. Corações temerosos, dúvidas, interrogações… «Ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos…». Entram. «Veem e crêem»! Veem com o coração e entendem: o túmulo está vazio, pois a Vida não podia ficar prisioneira da Morte! Aquele foi o «Primeiro Dia» duma Nova História, que não parou de correr…Agora é a nossa vez. Corramos ao encontro da Vida! Com nossas sombras, me-dos, dúvidas: vale mesmo a pena compro-meter a vida seguindo Jesus, pela via do amor e do serviço? Não corro o risco de contar pouco, num mundo onde o poder, a ganância, a astúcia, falam mais alto?... Sim, corramos. Porque, junto ao Sepulcro Vazio, encontraremos não um cadáver, mas o Senhor: Ressuscitado, Ressuscitador! E «veremos»: entenderemos que «quem passa fazendo o Bem» não pode ser derrotado pelo Mal. Já começou o Mundo Novo!
16 de abril
2º domingo de Páscoa
Leituras: 1ª: At 2,42-47. Salmo: 118/117, 2-4.13-15.22-24. R/ Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia. 2ª: 1 Pd 1,3-9. Evº: Jo 20,19-31. II Semana do Saltério.
FERIDAS LUMINOSAS
Crer ou não crer? Abrir-me ao novo ou fechar-me nas minhas certezas? Render-me ao amor ou optar pelo cinismo? Dúvidas nossas, dúvidas de Tomé, o Dídimo (=gémeo). Não crê na notícia da ressurreição do Mestre, demasiado boa para ser verdadeira…Felizmente, Tomé não teve medo de manifestar suas dúvidas. Felizmente, a comunidade não o excluiu, apesar de pensar diferente. E o Ressuscitado «pôs-se de novo no meio deles», e disse a Tomé: ‘Toca as minhas chagas’! E Dídimo rendeu-se ao amor: «Meu Senhor e meu Deus!» Pertenço a um Deus vivo, que se aproxima de mim e me oferece duas mãos feridas por amor. Tomé é meu gémeo. Como posso crer na força da ressurreição, se, à minha volta, parecem mais fortes os sinais de morte? Como acreditar que o Senhor ressuscitou, se o mundo continua ferido por injustiças, pandemias, guerras? Se o ser humano continua egoísta? Contudo, foi pelas feridas (prova de amor maior!) que o Ressuscitado se deu a conhecer! Dessas chagas, agora, já não brota sangue e água, mas Luz e Misericórdia, Espírito Vivificante e Libertador. Nele, também as nossas feridas se transfiguram em sulcos de Amor, Misericórdia e Compaixão - energia de Ressurreição, capaz de curar o mundo.
23 de abril
3º domingo de Páscoa
Leituras: 1ª: At 2,14.22-33. Salmo: 16/15,1-2a.5.7-8.9-10.11. R/ Mostrai-me, Senhor, o caminho da vida. 2ª: 1 Pd 1,17-21. Evº: Lc 24,13-35. III Semana do Saltério.
ARDE-NOS O CORAÇÃO?
Dois discípulos voltam a casa destroçados: o sonho do Mundo Novo esfumou- -se na Cruz! Olhos vendados pela desilusão, não reconhecem o Forasteiro que caminha com eles. Só sabem lamentar- -se: mataram-no… esperávamos que ele libertasse Israel… mas já lá vão três dias… Um é Cléofas, o outro não tem nome. Talvez seja eu. Afinal, o caminho de Jerusalém a Emaús é muitas vezes o meu: quando acredito mais na força do mal que na energia do bem; quando vejo a Cruz como derrota e não como plenitude de amor doado. O Forasteiro volta a ser Mestre, e ajuda Cléofas e a mim a fazer um caminho inverso: ler os acontecimentos à luz dum Projeto maior: «Não devia o Messias sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» Num mundo dominado por lobos, não devia Deus dar-nos seu Filho como Cordeiro? Não devia o Filho doar-se por amor, para que aprendamos a via de regresso ao coração do Pai, ao coração dos irmãos? Então, tudo ganha novo sentido. «Não nos ardia o coração quando ele nos falava?...» Anunciar o Evangelho é fazer estrada com as mulheres e homens de hoje. É aquecer corações, contagiar vidas de esperança. E ajudar a descobrir a Presença do Ressuscitado no pão partido da eucaristia e da fraternidade.
30 de abril
4º domingo de Páscoa
Leituras: 1ª: At 2,14a.36-41. Salmo: 23/22,1- -3a.3b-4.5.6. R/ O Senhor é meu pastor: nada me faltará. 2ª: 1 Pd 2,20b-25. Evº: Jo 10,1-10. IV Semana do Saltério.
PARA QUE TENHAM VIDA
Hoje celebramos o Ressuscitado como nosso Bom Pastor. Mas Jesus começa por apresentar-se como a Porta das ovelhas: uma porta sempre aberta, acolhedora dos mais frágeis. Ele dá-se gratuitamente, deixando-nos livres: «entrarão e sairão, e encontrarão pastagem». Amando-nos livremente, Jesus faz-nos capazes de também amar livremente! O Pastor «conduz as ovelhas para fora» do recinto. Então, era o recinto do templo de Jerusalém, símbolo duma religião pesada, sem coração, centrada na observância de leis, proibições, ritos. Um recinto sufocante! O Bom Pastor conduz-nos «para fora» de todos os recintos opressores: o da falsa relação com Deus, fundada no medo, legalismo, ritualismo; o da solidão; o dos ídolos sempre atuais: autossuficiência, imagem, indiferença ante a sorte dos pobres e do planeta…Jesus é Pastor «Bom» em contraste com outros pastores — falsos, porque «ladrões e salteadores», que vêm «para roubar, matar e destruir». Ele vem para que tenhamos «vida, e vida em abundância!»Em nossos ambientes, há gente que espera atenção, cuidado, apoio. Deixemos desabrochar em nós a mais nobre vocação humana: ser ‘pastores’, dadores de vida. Amando livremente, generosamente, como o Bom Pastor!
7 de maio
5º domingo de Páscoa
Leituras: 1ª: At 6,1-7. Salmo: Sl 33/32,1-2.4-5.18-19. R/ Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia. 2ª: 1 Pd 2,4-9. Evº: Jo 14,1-12. I Semana do Saltério.
NÃO SE PERTURBEM! SEJAM CASA DO PAI…
Como continuar a ser testemunhas de Jesus, num mundo confuso, numa Igreja em crise? Como seguir adiante, sem a presença visível do Senhor, afastando-nos o temor? Interrogações de hoje e de ontem. Semelhantes às dos apóstolos, quando, na Última Ceia, o Mestre lhes começou a falar da sua partida. Aí, Jesus lhes assegurou:«Não se perturbem! Credes em Deus? Crede também em mim!» Não temer, confiar: duas atitudes fundamentais de que se alimenta a vida e a relação com Deus! Como seres frágeis, feridos, precisamos de ouvir, cada dia, essas palavras essenciais: ‘Não temas! Confia!’Porque «em casa de meu Pai há muitas moradas». A Casa do Pai é o coração de Deus: acolhedor, onde há lugar para cada um. A Casa do Pai é também a comunidade cristã: quando é hospitaleira e nela se tecem relações de confiança, de recíproco sustento. Se as pessoas não veem em nossas comunidades a morada de Deus, é porque não sabemos mostrar, com a vida, o caminho para aí chegar. O Mestre nos diz: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim». É Jesus a via para Deus. É vivendo do jeito dele — confiante, amoroso, doado — que nos tornamos morada de Deus. «Onde eu estou, estareis vós também».
14 de maio
6º domingo de Páscoa
Leituras: 1ª: At 8,5-8.14-17. Salmo: Sl 66/65,1-3a.4-5.6-7a.16 e 20. R/ A terra inteira aclame o Senhor. 2ª: 1 Pd 3,15-18. Evº: Jo 14,15-21. II Semana do Saltério.
UM OUTRO PARÁCLITO
Caminhamos para o fim do tempo pascal. As interrogações dos discípulos, quando, na Última Ceia, Jesus começou a falar da sua partida, podem ser nossas: Conseguiremos prosseguir o sonho de Mundo Novo que Ele nos deixou? Como responder ao enorme desafio de ser sua presença no mundo? E o Mestre, como aos discípulos, nos assegura: «Não vos deixarei órfãos… Pedirei ao Pai, e Ele vos dará um outro Paráclito». O Paráclito é aquele que está ao nosso lado, nos auxilia e defende das forças do Mal, ou do “mundo”: os velhos sistemas de poder, dominação, auto-suficiência, que se opõem ao Novo trazido por Jesus. O Paráclito sustenta-nos, dá-nos coragem de resistir à mentalidade dominante, para prosseguirmos os passos do Mestre na construção do Mundo Novo, fundado no Amor e na Compaixão. O evangelho, por isso, abre e fecha com o tema do Amor. «Quem me ama será ama-do por meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele». Um círculo virtuoso de amor une o discípulo a Jesus, e este ao Pai, e o Pai a todos. Todos envolvidos numa “dança de amor”!… O cristão é um amado, que vive, como o Mestre, em amor-doação, a única via capaz de transformar o mundo. Com a força do Paráclito, o Espírito do Ressuscitado.
21 de maio
Ascensão do Senhor
Leituras: 1ª: At 1,1-11. Salmo: 47/46,2-3.6-7.8-9.R/ Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor. 2ª: Ef 1,17-23. Evº: Mt 28,16-20. III Semana do Saltério.
IDE: FAZEI DISCÍPULOS, CUIDAI DA VIDA
A hora da partida sempre chega. Também para Jesus. Mas ele não o faz de modo brusco. Prepara, por «quarenta dias» (número simbólico), as suas discípulas e discípulos para a missão que lhes confia: «Ide e fazei discípulos todos os povos».Para Lucas, essa partida é como uma “ascensão”: «elevou-se ao céu» e «uma nuvem o escondeu». O céu é alusão ao mundo divino. A nuvem recorda a Presença de Deus acompanhando o seu povo pelo deserto. Jesus não atravessa as nuvens. Penetra no íntimo mais profundo da vida, das coisas, do divino — para estar mais próximo de nós!Jesus parte para que permita aos apóstolos partir. Crescer em maturidade. Saberem que são um pequeno grupo de homens e mulheres frágeis, mas amados, transformados pelo Mestre. Com uma enorme missão: levar a todos os povos o fermento do Mundo Novo, fazendo-os participantes da força renovadora do Evangelho («ensinai-lhes a viver tudo o que vos mandei»); participantes da energia transformadora do Amor de Deus («batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»). Ascensão é partir em missão, ser “Igreja em saída”. Para anunciar a nossas irmãs e irmãos de humanidade «como é fantástica a esperança do chamamento que Deus nos faz»!
28 de maio
Pentecostes
Leituras: 1ª: At 2,1-11. Salmo: 104/103,1abc.24ac.29bc-30.31.34. R/ Enviai, Senhor, o vosso Espíritoe renovai a face da terra. 2ª: 1 Cor 12,3b-7.12-13. Evº: Jo 20,19-23. IV Semana do Saltério.
SOPRO DIVINO, SOPRO DE VIDA!
Apesar de o Mestre ter assegurado aos discípulos a sua Presença até ao fim dos tempos, eles continuavam medrosos. Precisavam de outra Força, a do Alto; de outro Sopro, o Divino. Assim também nós. E eis que, “na tarde daquele dia, o primeiro da semana”, o Ressuscitado “soprou sobre eles, e disse: recebei o Espírito Santo!” (Jo 20). Agora, os discípulos e discípulas começam a habitar no Espírito e o Espírito a habitar neles. São transformados, vencem o temor. Anunciam com ousadia o nome de Jesus, silenciado pelas autoridades religiosas e políticas. O Espírito é efusão de Vida! Lucas (Atos 2) parte da festa judaica de Shevuot, 50 dias (=Pentecostes) após a Páscoa judaica, de gratidão pelas colheitas, depois associada ao dom da Torah (Lei divina) no Sinai. Pentecostes passou então a significar plenitude de Vida Nova. Celebrando Pentecostes, os cristãos celebram não o fim da Páscoa, mas a sua Plenitude. O Ressuscitado derrama sobre nós, com abundância, o seu Espírito de Vida, Amor, Fortaleza! Pentecostes é um novo ponto de partida: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”. A nós! Com nossos sonhos e limitações, fortalezas e fragilidades… Mas, sobretudo, com a Força do Espírito.
Nota: Na revista BÍBLICA, esta secção tem o nome de "À Mesa do Pão e da Palavra".