Após o falecimento de D. Francisco de Mata Mourisca no passado dia 16 de março de 2023, foram organizadas diversas celebrações e cerimónias em Angola, particularmente na diocese do Uíge, onde residia e da qual era Bispo Emérito, e que se prolongam até ao dia 25, data da celebração das exéquias na Catedral do Uíje, onde ficará sepultado.
Os Franciscanos Capuchinhos em Portugal também organizaram várias celebrações de sufrágio pelo D. Francisco, que estão programadas para a Igreja de Santo António, em Barcelos, Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Gondomar, Paróquia da Imaculada Conceição, na cidade do Porto (Amial), Convento da “Virgo Peregrina”, em Fátima, Paróquia de São José Operário, na Baixa da Banheira e na Paróquia da Sagrada Família do Calhariz de Benfica, em Lisboa.
A celebração em Lisboa decorreu no dia 22 de março, pelas 19 horas. Com a participação de alguns cidadãos de Angola, que residem nessa zona geográfica, e foi presidida pelo Bispo Emérito da Diocese de Viana (Angola), Dom Joaquim Ferreira Lopes. Desta celebração, transcrevemos a breve homilia que o senhor Bispo proferiu.
«Irmãs e Irmãos no Senhor, é bom e salutar participar neste encontro eucarístico em que queremos sufragar a alma do nosso Irmão, o senhor Dom Francisco de Mata Mourisca. É o sétimo dia do falecimento deste nosso Irmão e vosso conhecido, Bispo Emérito da diocese de Uíje – antigamente chamava-se Carmona e tinha associado São Salvador do Congo, hoje também diocese de Mbanza Congo. E embora nós sejamos profissionais da religião – fizemos profissão e perpétua – estamos obrigados a falar na eucaristia ao Povo de Deus.
No entanto, não é fácil celebrar estas eucaristias, porque sentimos também um certo aperto na garganta que nos dificulta falar fluentemente. Mas estamos aqui como homens de fé na ressurreição e, por isso, a nossa palavra para vós neste momento, é uma palavra de esperança porque todos estamos irmanados neste acontecimento que, humanamente, é compreensível e, na idade avançada, é mesmo esperado.
O Papa Francisco tem repetidamente dito que os sacerdotes ou os párocos que estão a tomar conta do rebanho do Senhor evitem, nas missas de defuntos, passar o tempo a fazer elogios fúnebres. Tem razão, o Papa. Por isso não vou fazer nenhum elogio fúnebre. Isso será feito nas crónicas, na comunicação social e nas redes. Vou apenas focar a pessoa do D. Francisco como homem de Deus, como Capuchinho insigne ou Bispo de nomeada em Angola. Imaginai só, se vísseis o programa dos funerais, que começou na quarta-feira passada e vai terminar só no próximo sábado, são multidões que afluem, não só da Província do Uíje à capital como também do resto da grande Angola, porque a sua vida foi passada, a maior parte dela, aí e aí ficou. Ali brilhou pela sua inteligência, a sua simplicidade franciscana, o seu amor aos pobres e a sua dedicação à Igreja. Neste momento queremos dar graças a Deus, porque foi um grande dom de Deus para a sua Igreja, uma vida inteira consumida pela Igreja e pela missão “ad gentes”, missão aos povos.
Tenho especiais ligações ao D. Francisco, na Ordem Capuchinha, pois foi ele que me ordenou de Presbítero, no Porto, em 1975 e, depois, me ordenou Bispo em Luanda, em 2002. Acompanhei-o depois nas minhas lides episcopais, na Diocese do Dundo, Lunda Norte, e também na Diocese de Viana, junto a Luanda. Interessamo-nos pelas mesmas lutas da Igreja em Angola, sobretudo naqueles anos muito difíceis que se seguiram à proclamação da independência. Cada um no seu espaço geográfico naquele enorme país, e em momentos particularmente difíceis da sua história recente.
Neste momento, porém, em que ele nos deixa, aqui congregados na nossa fé comum que partilhamos em Deus, que é Pai de misericórdia e, na nossa tradição católica, sentimos o dever de rezar por ele. E viemos pedir a Deus que lhe dê o eterno descanso, lhe dê a recompensa reservada aos justos, com o diz a Sagrada Escritura no livro da Sabedoria: “As almas dos justos estão na mão de Deus” (3,1), e o Catecismo da Igreja Católica: “Tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim também os justos depois da morte viverão para sempre com Cristo ressuscitado” (artº 11, nº 989). Encontramo-nos em plena Quaresma, neste tempo de preparação para a Páscoa, que é um tempo penitencial em preparação para a Ressurreição que é o centro da nossa fé. À semelhança da Páscoa de Cristo, que queremos preparar, a morte de cada um de nós é também a nossa própria Páscoa.
Assim, estamos a celebrar a Páscoa do senhor D. Francisco e sabemos como era grande a sua fé neste mistério. Curiosamente, a primeira leitura que foi proclamada do profeta Isaías (49,8) na sequência do segundo canto do Servo de Javé, em que aparece uma série de verbos na segunda pessoa do singular, “respondi-te”, “socorri-te”, “defendi-te”, para restaurares o país, repartires as heranças devastadas, dizeres aos prisioneiros: “Saí das prisões”, e aos que estão nas trevas: “Vinde para a luz!”, sem forçar em nada a Escritura, não é difícil entender aqui a missão que D. Francisco levou a cabo em Angola, no Uíje e não só, a favor do Povo de Deus. Por isso, o passo do evangelho de São João que escutamos há momentos (Jo 5,17-30), também dizia. “Todos quantos praticarem obras boas, ressuscitarão para a vida que não tem fim”. Damos graças a Deus pela vida longa e exemplar deste nosso Irmão e Bispo da Santa Igreja, agradecemos ao Senhor os dons com que o dotou e a forma como ele os pôs a render e pedimos ao Pai das misericórdias que o receba nos seus braços, na comunhão dos Santos, quando nós também esperamos ser recebidos. Assim seja.»